mércores, 30 de setembro de 2015

A língua para quem a trabalha

Não lembro mui bem em quê pensava quando decidi passar-me a este lado “escuro” da língua. Não saberia localizar o momento dessa mudança. Lembro a minha época no liceu em Compostela, recém chegado da Corunha, e acérrimo defensor do isolacionismo. Lembro discutir, mais ou menos amavelmente com alguns profes, proselitistas dos mínimos nas suas aulas. Depois tive uma época anti-normativas: nem umas nem outras; anarkia e kontrakultura. E sem saber bem de quê maneira nem como nem quando, acabei nos Mínimos, transitando dos “Mínimos baixos” aos “Mínimos Altos” como um percurso que vivia de forma “natural”, lógica e inevitável. E, daí, seguindo a viagem, porque a viagem é o que nos faz estar vivos, aos Máximos, norma AGAL, por decisão majoritária da minha organização política na altura. E ainda, recentemente, numa nova etapa nesta viagem que começo a pensar que é infinita, aporto (quer dizer, chego a porto) no Acordo Ortográfico (a.k.a. A.O.) assumindo acentos nasais na escrita, por exemplo, para seguir falando na mesma língua. Coma mim, ou com uma trajetória similar, haverá muitas pessoas.
Penso, agora, que fiz todo esse trajeto duma forma pouco reflexiva: nem pensava no que ficava ou podia ficar atrás nem no que vinha ou podia vir por diante. A questão é que chegou um momento (mas isto ainda foi recentemente), que tomei consciência de todo o que isso significou.
Porque o certo é que a pesar de (ou precisamente por mor de) ter estudado na faculdade de Filologia, a discussão científica sobre este tema parece-me completamente aborrecida e falta de atrativo. Em todo caso, a mim não me interessa o mais mínimo. Lembro ainda na postura “mínimos altos” (que contribuição tão pouco valorada tem feito este país à lingüística no campo da Normativística Aplicada!), lembro, digo, um debate sobre este tema na Faculdade, no que defendi, desde o , que a Questione não tinha solução imediata, mas que esta inevitavelmente chegaria, e seria por cansaço. Foi uma idéia que depois repeti muitas vezes: esta é uma carreira de resistência, e a única tática possível para a estratégia necessária era precisamente essa, quer dizer, resistir. Seguir correndo. Agüentar. Coletivamente. Seguir adiante sempre. Assegurar o relevo. Conseguir dar sempre mais um passo, por pequeno que em determinados momentos poda .
Sigo convencido disto. Além de critérios científicos, lingüísticos, históricos, sociais, políticos, literários,… além de todo, a única verdade é que a vitória será de quem mais resista. Não existe já (se calhar, nunca existiu) possibilidade de convencer ao “outro”, à “outra”, coletivamente. Nenhum bando vai decidir dissolver-se, desaparecer voluntariamente, aceitar as posturas “contrárias”.
De fato, os bandos foram com o passar do tempo simplificando-se, e todo aquele corpo de “Minimalistas” (permita-se-me a expressão), nas suas diversas variantes “Altas“, “Baixas” ou “Meias“, está a dia de hoje integrado (ou reintegrado) num dos dous grandes blocos: Isolacionistas e/ou Reintegracionistas. Sendo bem certo, é necessário clarificar, que ambos bandos não são (nunca foram) blocos monolíticos: mas acolhem diversas e diferentes variedades e formas de entender e defender ditas identidades. Entre , a pessoas que flutuam entre um e outro, de um a outro e vice-versa.
Sigo convencido de que, contra vento e maré, venceremos nós e de que o reintegracionismo é um componente fulcral da identidade galega. Mas também estou cada dia mais convencido de que é necessário seguir atraindo pessoas, individualidades (que, finalmente, som as que compõem os coletivos) para o nosso “bando”. Estou convencido de que para “ganhar”, temos de seguir a construir um reintegracionismo ativo e atrativo, isto é: com capacidade de atração.
Porque para chegar à vitória é necessário seguir existindo, seguir sendo um referente significativo e vivo. Seguir correndo. E a meta do reintegracionismo, tenho para mim, por se alguém tem dúvidas, não é vencer ao isolacionismo, mas convence-lo de que a única estratégia útil para evitar a desaparição da língua galega na Galiza passa por assumir a unidade lingüística galego-portuguesa.
O reintegracionismo segue vivo. Frente a silêncios, censuras e intentos de ocultar a sua existência, hoje está cá, e não é possível negar a sua existência. Não somos “quatro gatos”, não somo um grupinho de frikis, não somos uma nota a rodapé. E se chegamos aqui é porque houve quem optou por seguir a caminhar, por avançar, por dar passos por pequenos que puderam parecer. Hoje o reintegracionismo (termo que serve para referir-se a um amplo, plural e diverso coletivo) não vive o melhor momento da sua história por ter ganhado debates filológicos, mas por estar vivo nas ruas, nos centros sociais, nas manifestações, na vida interna e externa de muitas e muito diferentes entidades de todo tipo (políticas, culturais, sindicais, feministas, estudantis, juvenis, desportivas, sociais,…), nos livros, revistas e publicações que seguiram vendo a luz (a pesar de tantas e tão variadas formas de intentar acabar com elas), na rede que nos permitiu multiplicar e fortalecer as mensagens por meio de webs, blogues, redes sociais, etc. E todo isto, é certo que o fizeram as pessoas, mas não só. Essas todas pessoas, não trabalhavam individualmente, mas organizadas
É muito extensa a nomina de organizações que fizeram bandeira com a língua, empregando o nh nos seus textos, mas não só. Palavras que hoje estão amplamente socializadas (bem que ainda insuficientemente), fazem parte do nosso léxico porque houve organizações que decidiram seguir caminhando, dando passos, empregando-as e, portanto, tornado-as visíveis nas suas brochuras e nos seus colantes, nas suas faixas e nos seus cartazes, nos seus crachás e nas suas camisolas.
É por isso que podemos dizer que a nossa língua é nossa na mesma medida que nós somos da língua. É por isso que para mim, que sigo acreditando que estamos numa maratona, numa carreira de resistência, a melhor palavra de ordem que podemos empregar no debate interno que está havendo no reintegracionismo é “a língua para quem a trabalha, a norma para quem a transforme”. Porque a(s) norma(s) é (são) ferramenta(s) ao serviço da língua; não são fins, mas meios; não são estratégia, mas tática. Porque finalmente, todas e todos falamos a mesma língua, e as normas (também as lingüísticas) estão para ser transgredidas, ou quando menos transformadas, quando assim seja necessário. Não se trata, penso eu, de uma ou outra norma, de modificar esta ou aquela, de debatermos sobre morfologia verbal ou sobre fonética histórica, mas de conseguirmos a hegemonia. E não acredito em serem as rupturas a melhor forma de consegui-la. Nem neste campo, nem em nenhum outro. Nunca se avançou indo cara trás.

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