Quando Obama, presidente dos EUA,
recebeu em 2009 o prémio nobel da Paz, nem imaginávamos que em 2015 o
ainda presidente autonómico Núñez Feijóo receberia um prémio pela defesa
da língua portuguesa.
O
mérito outorgado pelo seu amigo, o ainda presidente de Portugal Aníbal
Cavaco Silva, não seria possível sem a intervenção da sociedade civil
galega que aprendeu a exigir às autoridades o reconhecimento
internacional da sua língua e cultura. É graças aos atores dessa demanda
social que os governantes saintes aproveitam agora seus últimos meses
de gestão do público para subir alguns pontos o seu escasso haver
popular.
Os conservadores peninsulares sempre souberam apoiar-se nos maus
momentos. Salazar deixou tranquilo Franco e, em troca, Franco deixou
tranquilo Salazar. O pacto de colaboração entre as elites portuguesas e
espanholas para estabelecer melhor seus interesses não é cousa nova.
Nesse sentido, Núñez e Cavaco tão só seguem a tradição histórica, deixam
ao lado quaisquer diferenças afastadoras e enfatiçam as semelhanças
aproximadoras, neste caso, a língua portuguesa.
É que, como já foi dito, não estão os tempos para conservadorismos
nem imobilismos. A direita peninsular, sempre extrema, apoia-se
mutuamente para as vacas fracas que se aproximam. Porque sabe que não
vai poder esconder-se do olhar inteligente da cidadania quando ela tomar
por assalto as instituições e as pôr ao serviço das pessoas. Quando
soubermos a quantidade de dinheiro gastado inutilmente numa normalização
linguística que não avança, mas sim retrocede. Quando comprovarmos as
nuvens de fumo vendidas, como a da promoção da língua portuguesa, que
nunca começou. Quando abolirmos a mentira da língua estrangeira, última
pedra no caminho da reintegração. Então é que veremos os senhores Núñez e
Cavaco, de cruz e coroa, desfarrapados e pitorescos, como soldados
romanos após a emboscada gaulesa.
Se Obama, embarcado em várias guerras, olhou o horizonte com o seu
prémio da paz, por que o nosso Feijóo não haveria de cravar também sua
pupila no crepúsculo da cruz, feito mártir da língua portuguesa, homem
esforçado que morre por deixar na nossa terra a ponderação dos grandes, a
sensatez dos bem pensantes, a entrega dos bons e generosos, o canto do
cisne num bocado de língua comum!
Opinião publicada originalmente no n.º 149 do Novas da Galiza, na seção Língua Nacional.
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