«O Plano de Normalização Linguística da Universidade, que está em vigor desde 2006, em geral, não alcançou os seus objetivos».
José Fernández López mantém uma relação estreita com o português desde criança. Hoje é arquivista na Corunha e mora em Arteijo. Gostaria de que as suas filhas tivessem a oportunidade de estudar português na escola.
És arquivista na Corunha mas moras em Arteijo. Qual é a situação da língua no teu âmbito profissional?
Trabalho na Universidade da Corunha como pessoal de administração e nela a língua em que se escrevem a maior parte dos documentos é o galego. Nos usos orais o castelhano é claramente maioritário.
O Plano de Normalização Linguística da Universidade, que está em vigor desde 2006, em geral, não alcançou os seus objetivos. A prova mais evidente disto é que a docência em galego continua a ser aproximadamente a mesma que há 10 anos, 10%.
Como foi a tua chegada ao galego? Qual foi a tua relação com a língua desde criança?
Ainda que fui educado em castelhano, o galego sempre foi uma língua muito presente no meu entorno. Lembro desde rapazinho ter interesse e admiração pelos paisanos que falavam com arte. Na mocidade fui aumentando o uso que fazia do galego, de forma que quando fui estudar para Santiago passei a desenvolver a maior parte da minha vida em galego.
Convém indicar, que na casa onde me criei, o galego era entendido como uma língua de cultura. Já nos anos 60 havia bastantes livros em galego, e mesmo havia alguns em português. De facto, criei-me ouvindo o discurso de que o galego e o português eram em origem a mesma língua e que mesmo atualmente, eram, basicamente, o mesmo idioma. Nisto, Castelao tinha triunfado naquela casa.
E por que és reintegracionista? Que foi o que te fez mudar?
Realmente eu não mudei muito neste assunto. Talvez agora tenha uma postura mais ativa em prol do reintegracionismo. Estes últimos anos retomei o estudo do português, que o tinha um pouco esquecido. Mas penso aproximadamente o mesmo que pensava há 15 ou 20 anos. Ou seja, penso que os galegos em geral, e os galegofalantes em particular, não temos suficientes recursos e os que temos, devemo-los aproveitar bem. As potencialidades que abre uma orientação reintegracionista não devem ser desprezadas por preconceitos ideológicos.
Igualmente entendo que o fracasso da política de normalização linguística desenvolvida ao longo dos últimos 35 anos tem nisto uma das suas principais causas. Ora, quero acrescentar que, para mim, esta não é a única razão do não funcionamento da normalização. Penso que se deve fugir da simplificação das coisas.
Desde rapaz, lês em português e mesmo foste a um curso de verão na Universidade de Lisboa… Por que esta relação com o português desde há tantos anos?
Penso que esta pergunta foi respondida com o que disse nas duas questões anteriores. Contudo, há algumas outras razões. Por exemplo, passo-o muito bem falando e cantando com sotaques de Lisboa ou da Baía.
Tens duas miúdas pequenas. Como consegues transmitir-lhes o galego? Morar em Arteijo ajuda? Achas que a lusofonia pode abrir-lhes portas no futuro?
A principal forma de transmitir a língua às miúdas é falando-lha com jeito. A mãe e eu coincidimos nisto. Outra cousa que ajuda muito é explicar-lhes, desde pequenas, a importância de estudar e aprender. Saber é melhor que não saber. Insistimos-lhes por igual na necessidade de dominarem bem o galego-português (quer na sua variante galega, quer na variante portuguesa) o castelhano e o inglês. Queremos transmitir-lhes uma identidade, mas uma identidade útil, uma identidade que lhes ajude a ganhar o futuro.
Em relação à ajuda que pode dar o facto de morar em Arteijo, penso que um pouco sim, mas não muito. Ajuda, pois o galego ainda está bastante vivo em Arteijo entre os adultos. No entanto, a coisa muda muito entre os miúdos e miúdas. A escola continua a ser um agente castelhanizador.
Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?
A minha visão de AGAL era e é a de uma entidade com um bom objetivo: promover o reintegracionismo. Não obstante, sempre fui e sou um pouco cético sobre a possibilidade de influir realmente sobre o conjunto da população. Em qualquer caso, associei-me porque pensei que eu também podia fazer um pequeno e modesto contributo neste assunto.
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2030?
Conformo-me com três cousas. Primeiro, que os pais e mães que quiserem educar os seus filhos e filhas em galego (que os há) possam escolarizá-los em galego. Segundo, que o português seja uma matéria de estudo com um seguimento amplo nos níveis educativos não universitários. Terceiro, que o princípio segundo o qual o usuário “tem razão” e portanto deve ser atendido na língua da sua eleição, também reja para os usuários galegofalantes na Galiza.
Trabalho na Universidade da Corunha como pessoal de administração e nela a língua em que se escrevem a maior parte dos documentos é o galego. Nos usos orais o castelhano é claramente maioritário.
O Plano de Normalização Linguística da Universidade, que está em vigor desde 2006, em geral, não alcançou os seus objetivos. A prova mais evidente disto é que a docência em galego continua a ser aproximadamente a mesma que há 10 anos, 10%.
Como foi a tua chegada ao galego? Qual foi a tua relação com a língua desde criança?
Ainda que fui educado em castelhano, o galego sempre foi uma língua muito presente no meu entorno. Lembro desde rapazinho ter interesse e admiração pelos paisanos que falavam com arte. Na mocidade fui aumentando o uso que fazia do galego, de forma que quando fui estudar para Santiago passei a desenvolver a maior parte da minha vida em galego.
Convém indicar, que na casa onde me criei, o galego era entendido como uma língua de cultura. Já nos anos 60 havia bastantes livros em galego, e mesmo havia alguns em português. De facto, criei-me ouvindo o discurso de que o galego e o português eram em origem a mesma língua e que mesmo atualmente, eram, basicamente, o mesmo idioma. Nisto, Castelao tinha triunfado naquela casa.
E por que és reintegracionista? Que foi o que te fez mudar?
Realmente eu não mudei muito neste assunto. Talvez agora tenha uma postura mais ativa em prol do reintegracionismo. Estes últimos anos retomei o estudo do português, que o tinha um pouco esquecido. Mas penso aproximadamente o mesmo que pensava há 15 ou 20 anos. Ou seja, penso que os galegos em geral, e os galegofalantes em particular, não temos suficientes recursos e os que temos, devemo-los aproveitar bem. As potencialidades que abre uma orientação reintegracionista não devem ser desprezadas por preconceitos ideológicos.
Igualmente entendo que o fracasso da política de normalização linguística desenvolvida ao longo dos últimos 35 anos tem nisto uma das suas principais causas. Ora, quero acrescentar que, para mim, esta não é a única razão do não funcionamento da normalização. Penso que se deve fugir da simplificação das coisas.
Desde rapaz, lês em português e mesmo foste a um curso de verão na Universidade de Lisboa… Por que esta relação com o português desde há tantos anos?
Penso que esta pergunta foi respondida com o que disse nas duas questões anteriores. Contudo, há algumas outras razões. Por exemplo, passo-o muito bem falando e cantando com sotaques de Lisboa ou da Baía.
Tens duas miúdas pequenas. Como consegues transmitir-lhes o galego? Morar em Arteijo ajuda? Achas que a lusofonia pode abrir-lhes portas no futuro?
A principal forma de transmitir a língua às miúdas é falando-lha com jeito. A mãe e eu coincidimos nisto. Outra cousa que ajuda muito é explicar-lhes, desde pequenas, a importância de estudar e aprender. Saber é melhor que não saber. Insistimos-lhes por igual na necessidade de dominarem bem o galego-português (quer na sua variante galega, quer na variante portuguesa) o castelhano e o inglês. Queremos transmitir-lhes uma identidade, mas uma identidade útil, uma identidade que lhes ajude a ganhar o futuro.
Em relação à ajuda que pode dar o facto de morar em Arteijo, penso que um pouco sim, mas não muito. Ajuda, pois o galego ainda está bastante vivo em Arteijo entre os adultos. No entanto, a coisa muda muito entre os miúdos e miúdas. A escola continua a ser um agente castelhanizador.
Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?
A minha visão de AGAL era e é a de uma entidade com um bom objetivo: promover o reintegracionismo. Não obstante, sempre fui e sou um pouco cético sobre a possibilidade de influir realmente sobre o conjunto da população. Em qualquer caso, associei-me porque pensei que eu também podia fazer um pequeno e modesto contributo neste assunto.
Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2030?
Conformo-me com três cousas. Primeiro, que os pais e mães que quiserem educar os seus filhos e filhas em galego (que os há) possam escolarizá-los em galego. Segundo, que o português seja uma matéria de estudo com um seguimento amplo nos níveis educativos não universitários. Terceiro, que o princípio segundo o qual o usuário “tem razão” e portanto deve ser atendido na língua da sua eleição, também reja para os usuários galegofalantes na Galiza.
Conhecendo José:
- Um sítio web: A Wikipédia.
- Um invento: A cama.
- Uma música: Flores do verde pino, letra de Dom Dinis e cantada por Amancio Prada.
- Um livro: Armas, Germes e Aço: os destinos das sociedades humanas, de Jared Diamond.
- Um facto histórico: A Revolução Francesa de 1789.
- Um prato na mesa: O caldo.
- Um desporto: O ciclismo.
- Um filme: Cyrano de Bergerac, na versão de por Jean-Poul Rappeneau.
- Uma maravilha: O pôr-do-sol numa praia, por exemplo, em Soesto, em Laje.
- Além de galego: Ter a horta bonita.
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