Eduardo Sanches Maragoto é o novo presidente da Associaçom Galega da Língua (AGAL). Umha associaçom que renovou diretiva para tentar impulsar o conhecimento da dimensom internacional do galego através da Lei Paz Andrade e para divulgar a idea da sua pertença ao mundo lusófono segundo sinala nesta entrevista.
Umha das principais linhas de trabalho da AGAL vai ser
o acompanhamento da Lei Paz Andrade, «que necessita de um impulso
social nestes primeiros anos». Por isso, vai lançar novos discursos para
divulgar a ideia de que «a identidade lingüística e cultural galegas
nom som contraditórias com a sua pertença à Lusofonia». Também que o
galego seja conhecido no mundo lusófono.
AGAL manterá os principais produtos estrela das anteriores diretivas:
os cursos aPorto, os atelieres OPS! nas escolas secundárias, a editora
Através e, evidentemente, também o PGL e um site de formaçom que vai
sair em breve.
Nesta entrevista, Maragoto também sinala que a AGAL, como instituiçom, «nunca falou» com o PP
ou com o governo galego em relaçom à Lei Paz Andrade ou ao ensino do
português na Galiza. «Esta lei foi aprovada no Parlamento da Galiza,
aonde chegou por iniciativa popular», aclara. Ademais, sublinha que,
como entidade, tampouco tem tido «muita relaçom historicamente» com a
RAG e com o ILG, ainda que reconhece que «seria positivo para todas
intensificar os contactos».
A AGAL elegeu novo presidente e quase fijo umha renovaçom de todo o seu Conselho. A que responde isto?
Houvo umha renovaçom das caras, das pessoas que estám na primeira
linha. De facto, do Conselho anterior, só permanecemos Xico Bugueiro e
eu. Os estatutos impedem que umha pessoa permaneça por mais de dous
mandatos neste órgao e isto afetava vários cargos saintes. Mas quem
conhece a AGAL sabe que representamos o mesmo projeto que os Conselhos
anteriores, dando novos passos, mas na mesma direçom. Por isso, muitas
pessoas que agora se incorporam já estavam mui próximas da direçom
anterior nos últimos anos e muitas outras que dam um passo atrás ficam
igualmente na órbita do Conselho, mesmo a dirigir áreas importantíssimas
para a AGAL. Na verdade, sempre foi assim: o Conselho da AGAL é
realmente umha equipa muito mais ampla do que aparece nos papéis, com
bastantes sócios e sócias a participar em muitos projetos. Ora bem, é
preciso reconhecer que o grupo eleito tem maior responsabilidade e carga
de trabalho, incompatíveis com novas obrigaçons familiares e políticas
que felizmente assumírom alguns membros do Conselho sainte. É a vida.
Tu já tinhas experiência na direçom da AGAL. Dos novos membros que podes dizer?
Ficamos mui felizes por ter conseguido avançar com esta renovaçom, que
deveria ser a base em que assentasse umha substituiçom completa das
velhas caras do reintegracionismo no futuro. Assi, para além de Carlos
Quiroga e de pessoas da minha idade ou próximas (tenho 38 agora), como
Susana Arins, Xico Bugueiro e Eliseu Mera, surgem ativistas muito mais
novos, como Ricardo Gil e Jon Amil, que tenhem feito um grande trabalho
reintegracionista nos últimos anos, dentro e fora da AGAL, na área das
relaçons com Portugal ou da Internet. Só nos preocupa o facto de nom ter
incorporado mais mulheres. Nessa falta de participaçom feminina, que já
conseguírom corrigir outras organizaçons reintegracionistas, deveremos
pôr o foco nos próximos anos. Por outro lado, creio que no novo Conselho
há pessoas com muito peso em certas áreas importantes para nós: as
artes e o ensino.
Em todo o caso, comentache durante o discurso de encerramento
da assembleia que o trabalho da nova AGAL será continuísta do grande
trabalho feito por Valentim Fagim e Miguel Penas. Em que se reflete esse
continuísmo?
Em primeiro lugar em que todas as áreas abertas e os principais
produtos estrela das anteriores diretivas se vam manter: os cursos
aPorto, os atelieres OPS! nas escolas secundárias, a Através e
evidentemente também o PGL e um site de formaçom que sairá proximamente.
De facto, na gestom destas áreas vam estar mui impicados os membros da
anterior diretiva. Além destas áreas, elaboramos um programa realista, e
ao mesmo tempo ambicioso, que assenta na ideia que levamos como nome da
candidatura: Polo Novo Consenso. Este mote recupera umha campanha do
Conselho anterior e pretende traduzir a ideia da urgência de um novo
pacto social em relaçom à normalizaçom linguística do galego que assente
na Lei Paz Andrade. Este consenso deveria colocar o conhecimento do
português e os contactos com o mundo Lusófono como prioridade, algo
imprescindível para assegurar a comunicabilidade do galego num futuro
próximo.
Quais som os eixos sobre os que vai trabalhar o novo Conselho?
Como já dixem na resposta anterior, para além de manter as tarefas
anteriores, a principal linha de trabalho vai ser o acompanhamento da
Lei Paz Andrade, que necessita de um impulso social nestes primeiros
anos. Vamos fomentar a sua aplicaçom no ensino e fazer propostas para
que avance no ámbito das trocas humanas, sociais e audiovisuais com o
mundo de fala portuguesa. É algo que deveriam fazer as instituiçons por
si mesmas, mas entendemos que, como sociedade, devemos empurrar todo o
que pudermos. Por outro lado, vamos lançar novos discursos para divulgar
a ideia de que a identidade lingüística e cultural galegas nom som
contraditórias com a sua pertença à Lusofonia. O esforço que vamos fazer
para introduzir o português nas escolas pode levar as pessoas a pensar
que nos limitamos a trabalhar com o português como língua estrangeira e
queremos corrigir essa perceçom, porque é incorreta. Entendemos
necessário que as outras variantes da nossa língua sejam conhecidas, mas
o nosso objetivo é possibilitar a nossa variante, o galego, no mundo
lusófono. Todo isto vem confluir com a ideia de gerar um novo consenso
social a favor do galego assente na Lei Paz Andrade.
Precisamente há um tema que parece que aproximou, e muito, a
AGAL com o PP e com o Governo nos últimos tempos, que é o ensino do
português. Trabalhades juntos na Lei Paz Andrade e a Junta dixo que a ia
fomentar. Que relaçom ides manter com o Governo galego?
Antes de mais, é preciso esclarecer que a AGAL, como instituiçom, nunca
falou com o PP ou o governo galego em relaçom à Lei Paz Andrade ou ao
ensino do português na Galiza. Esta lei foi aprovada no Parlamento da
Galiza, aonde chegou por iniciativa popular, com umha insólita unidade
de todos os grupos, e isto demonstra a grande adesom que concitam o
ensino do português e o reforçamento dos vínculos com a Lusofonia, que
som percebidos como umha necessidade, como um objetivo estratégico para o
nosso país. Ainda que nom fosse a AGAL como tal, muitos sócios e sócias
da associaçom participárom no longo percurso da Lei Paz Andrade, e
estamos mui satisteitos de que todas as forças parlamentares, nom só o
PP, também PSOE, BNG, AGE e Grupo Mixto, tenham entendido a importáncia
de algumhas propostas que historicamente fijo o reintegracionismo.
Porém, ainda estamos longe de ver umha implicaçom ativa do Governo no
sentido de aplicar a Lei Paz Andrade, que por agora está a avançar sem
ajuda institucional no ensino. Por exemplo, o português aumentou
significativamente nos centros educativos este ano (duplicárom-se as
inscriçons); imagina como seria se houvesse umha política de fomento
real por parte das diferentes instituiçons galegas, como exige a Lei! Na
AGAL sabemos que as leis e os posicionamentos das administraçons
públicas som muito importantes, mas ainda tem mais importáncia aplicar o
que se aprova no Parlamento. Para isso é fundamental que a sociedade
civil continue a exigir que se cumpra o aprovado unanimemente. Esse é o
nosso papel e, com este ponto de partida, o nosso desejo é ter as
melhores relaçons possíveis com qualquer instituiçom ou organizaçom
interessada em avançar no sentido que propomos. A mesma mensagem
enviamos a qualquer partido político ou organismo cívico aberto a ouvir
as nossas propostas: quem nos conhece sabe bem que nom somos umha
associaçom do ‘nom’, senom que recebemos e fazemos propostas para
colaborar com quem as deseja levar a cabo.
À gente que ainda é reticente quando ouve que o galego é português, que lhe dizedes?
Cada reintegracionista tem a sua resposta particular, porque de facto
nom existe umha única resposta nem há verdades absolutas nesta matéria.
No meu caso particular, eu digo-lhes que a maioria das línguas da nossa
área geográfica som complexos mui amplos, falados em muitos países, que
admitem muitas variantes. Essas variantes nom tenhem nada que perder
quando estám integradas num ámbito maior. É o contrário: devem estar
relacionadas e coordenadas para nom perderem força do ponto de vista das
possibilidades comunicativas. Se limitarmos a consideraçom de galego ao
que falamos apenas na nossa localidade, o futuro da língua é incerto.
Em qualquer caso, tenho a sensaçom de que muitas reticências se explicam
porque nom se conhece bem o português. Se fosse conhecido, as pessoas
veriam que recuperam mais galego do que perdem através do contacto com
as outras variantes da língua.
Mas sabedes que, com esta questom, ainda há umha barreira
mental na Galiza. Eu, que sou da raia, sei que as identidades estám mui
marcadas a um lado e outro do rio. Que pensas que há que fazer para a
romper?
Si, claro, e é normal. As fronteiras políticas geram identidades
divergentes mui fortes; isso é inevitável e o nosso objetivo nom é
ignorá-las, senom torná-las compatíveis, fomentando também aquelas
outras identidades compartilhadas que se mantenhem apesar da raia. No
caso particular da língua, a comunidade natural é evidente, mas a
ortografia acentuou a identidade divergente de forma artificial,
escrevendo-se Minho e Miño a um lado e outro da raia. Em qualquer caso,
esta é a realidade e com ela devemos trabalhar. No nosso programa
levamos várias iniciativas para promover o conhecimento mútuo entre os
dous lados da raia, passo prévio essencial para superar qualquer
fronteira, para converter as diferentes identidades em riqueza
compartilhada: promover eventos turísticos comuns como o caminho
português de Santiago, geminaçom de vilas, trocas audiovisuais, etc. A
Internet marcou-nos o caminho nesse sentido: desde que existe, a
perceçom do português e Portugal que tem a sociedade mudou radicalmente,
porque facilitou um conhecimento mútuo Galiza-Lusofonia que desfijo
muitos preconceitos.
Que tal a relaçom com a RAG e com o Instituto da Língua Galega? Intensificaredes a relaçom?
Nom temos tido muita relaçom historicamente, entre outras cousas porque
nós somos umha associaçom cívica e a RAG e o ILG som instituiçons
semipúblicas, mas seria positivo para todas intensificar os contactos.
Afinal de contas, compartilhamos o objetivo de dignificar a nossa língua
e cultura, ainda que tenhamos diferentes estratégias para o conseguir.
Há muitas áreas em que nos podemos ajudar: para nós, o trabalho
descritivo do galego que estas instituiçons fam é fulcral e, em sentido
contrário, creio que na RAG e no ILG sabem que o conhecimento e contacto
com o português é fundamental para preservar o valor comunicativo do
galego.
Crês que é possível que algum dia se chegue a umha confluência de normativa ILGA e AGAL?
Isso vejo-o mui complicado, seria forçar demasiado. Há demasiada
distáncia entre a ortografia portuguesa e a espanhola como para poder
chegar a um acordo técnico. Mas vejo possível e desejável que as duas
posturas gráficas, a reintegracionista e a autonomista, convivam e se
reconheçam como duas possibilidades de galego. Penso que isso nom está
tam longe e facilitaria o trabalho conjunto de todas as pessoas que
procuramos um espaço para o galego na nossa sociedade e no mundo. Creio
que algum dia as instituiçons acabarám por reconhecer o nosso modelo de
língua como mais um e as pessoas poderám escolher qual lhes convém mais
em cada momento ou situaçom. Seria positivo para todo o mundo.
Precisamente, um dos teus objetivos como presidente será o da
confluência normativa dentro da própria AGAL. Em que consiste isto?
O nosso caso é diferente do anterior, porque há mui pouca distáncia
entre as duas tradiçons morfológicas que convivem no reintegracionismo,
umha mais chegada ao português e outra mais chegada às falas populares, e
ambas podem conviver numha única norma facilmente. Ademais, todos
estamos de acordo no essencial: a nossa língua também se fala fora da
Galiza e deve compartilhar ortografia com os outros 8 países de língua
portuguesa. O processo que encetamos nesta assembleia é semelhante ao
que já aconteceu entre a normativa do ILG-RAG e os “mínimos” (que passou
a admitir amábel/amable) no ano 2003 ou entre Portugal e o Brasil (que
admite António/Antônio) no AO de 1990. Trata-se de um processo que
faltava por fazer no reintegracionismo e agora decidimos avançar com
ele. Consiste, por um lado, em simplificar duplicidades que admitia a
norma e que os usos reais das pessoas reintegracionistas fôrom reduzindo
a favor de umha determinada forma (os apelidos terminados em –es
impugérom-se claramente sobre os terminados em –ez, por exemplo). Por
outro lado, passaríamos a admitir duplicidades que assentam nos usos
reais das pessoas (capitão/capitám; coração/coraçom), que habitualmente
usam um galego reintegrado mais próximo do português ou menos dependendo
do contexto.
Umha curiosidade... o conselho foi eleito com 87% dos votos. Porque há um 13% que nom está de acordo convosco?
A oposiçom tivo que ver com este tema, e assim foi explicado na
assembleia. Realmente, o voto negativo foi só de 6%. O resto, até 13%,
forom votos brancos e abstençons, mas de qualquer modo vamos trabalhar
para conseguir a adesom de todos os sócios e sócias reticentes à nossa
proposta. Estas pessoas entendem que é melhor manter as duas normas
claramente diferenciadas (a norma AGAL e o padrão português), por
diferentes motivos, desde pedagógicos até ideológicos. A verdade é que a
todos nos custa um pouco dar este passo, porque com a norma da AGAL,
tal como a conhecemos até hoje, nasceu o reintegracionismo moderno e
todos e todas nós temos um grande vínculo sentimental com ela, mas o
certo é que umha maioria mui ampla dos sócios e sócias pensa que já
chegou o momento de apresentar umha proposta única à sociedade.
E nom tem que ver isso com diferenças políticas? Até há pouco
associava-se a AGAL com o mundo independentista, mas parece que agora o
sócio da AGAL é mui diverso. Continua a haver essa mistura de política e
AGAL?
O reintegracionismo cresceu muito nos últimos anos, sobretodo em
simpatizantes, quer dizer, em pessoas que, sem serem 'militantes' do
reintegracionismo, compreendem as suas razons e apoiam-no em diferentes
ámbitos. Isso tornou o movimento mui diverso politicamente, é verdade, e
em certo modo, os passos que estamos a dar pretendem ter em conta que
hoje em dia já nom há umha única maneira de ser reintegracionista.
Continuará a haver pessoas que sejam reintegracionistas por diferentes
razons políticas, culturais ou mesmo filológicas, mas pensamos que nos
próximos anos continuará a aumentar o número de simpatizantes que se
cheguem a nós por razons meramente práticas. O reintegracionismo tem que
fazer propostas para toda a sociedade e preparar-se para dar cabimento a
qualquer pessoa, fale como falar e pense como pensar politicamente.
E já para finalizar. Três palavras do galego-português que cumpre que todos saibamos.
Eu penso que usar os dias da semana contados polo sistema de feiras
(quarta-feira, quinta-feira), o verbo achar com o valor de 'pensar'
(acho que vai chover) e o adjetivo pronto (“estou pronto”; com o valor
de 'preparado', diferente de cedo) som três bons exemplos de como
podemos usar o modelo de língua reintegrado para recuperar termos que
usavam os nossos avós e que ainda chegárom vivos, ainda que mui
debilitados, ao século XXI.
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