mércores, 17 de febreiro de 2016

No Dia Internacional da Língua Materna (documentário: ‘Crónicas da repressão linguística’)

AS AULAS NO CINEMA

O dia 21 de fevereiro celebra-se em todo o mundo o Dia Internacional da Lingua Materna. Na 30 Conferência Geral da UNESCO, celebrada na sua sede de Paris em 17 de novembro de 1999, acordou-se por unanimidade declarar o dia 21 de fevereiro de cada ano como o dia para lembrar e reivindicar a importância da língua materna. A proposta principal e formal foi feita pela delegação do Bangladesh, junto com outras instituições e ONGs. Por isto, desde o ano 2000, vem-se celebrando em muitos lugares esta comemoração. Com o nobre objeto de promover todas as línguas do mundo (atualmente perto de 6000), a diversidade linguística e o plurilinguismo. Em Daca, capital do Bangladesh, existe uma praça e um monumento, na qual estive há uns anos, dedicada à língua materna, neste caso o Bangla (que é como se denomina o bengali, idioma, entre outros de Tagore). Uma das comemorações mais importantes na Bengala Oriental durante o ano, gira ao redor destas datas. Durante o mês de fevereiro tem lugar um importante programa cultural e literário, com conferências, recitais poéticos, exposições, cinema, feiras do livro, teatro, cantigas e música. Os bengalis têm um profundo amor pelo seu idioma materno, verdadeiramente exemplar, que me produz uma sã inveja, quando me lembro da minha Galiza e do seu idioma próprio, o galego. Durante todo este mês a praça de que falo está toda engalanada e coberta de tapetes de flores e são muitas as pessoas durante todos os dias que a ela se aproximam. Não devemos esquecer que a causa fundamental que provocou em 1971 a luita, com final feliz, pela independência do Paquistão ocidental, esteve assente na defesa dos bengalis do idioma que amam, um idioma formosíssimo. Aqueles queriam eliminar a sua oficialidade e introduzir o Urdu (com grafia árabe) como idioma nacional e oficial em todos os âmbitos. Finalmente pesou muito mais a língua que a religião, e o Bangladesh terminou por ser um país livre e independente, em que o Bangla é o seu idioma oficial, que está presente em todos os âmbitos.
Um dos que mais se opôs à substituição do bangla pelo urdu foi o grande poeta Nazrul Islam, poeta nacional do Bangladesh, muito admirado, junto com Robindronath. Mas, já em 1952 houve mártires do idioma, três estudantes de Daca, mortos a tiros, na manifestação de defesa da oficialidade do seu idioma. Foram estes Abul Barkat, Rafiquddin Ahmed e Shafiur Rahman, assassinados pela polícia paquistanesa em 21 e 22 de fevereiro de 1952. O monumento da praça antes citada está dedicado precisamente a eles. E eu, em data tão assinalada e importante, quero render-lhes a minha humilde homenagem. Todas as línguas são importantes e ninguém deveria atentar e atacar as línguas, qualquer que for. Por isso não gosto do que acontece na Galiza, criando de forma artificial problemas linguísticos, que não beneficiam ninguém. Temos que fomentar entre os rapazes, nos lares, nas escolas e nos meios de comunicação, o amor e respeito por todas as línguas. Começando por apreciar aquela que usou, quando crianças, a nossa mãe connosco no colo. Por isso a língua materna está ligada aos sentimentos, ao amor, à afetividade, ao coração… E, por isto, tanta profundidade tem nos seres humanos. Quanto gostaria eu que em Espanha houvesse a mesma atitude para os nossos 4 idiomas que a que existe na Índia para muitos. Onde a Academia de Letras de Deli é para todas as línguas da República. Ao contrário do que em Espanha acontece.
Na minha última viagem ao Bangladesh, visitei a Bangla Akademi (Academia de Bengala) e entrevistei-me com o seu diretor. Este pediu-me, para um livro que iam editar de imediato, poemas galegos, portugueses e castelhanos, para serem incluídos no livro, acompanhados da sua tradução para o bangla. Entreguei, entre outros, o de Celso Emílio “Lingua proletária do meu povo, eu falo-a porque sim, porque me gosta, porque me peta e quero e dá-me a gana; porque ma sai de dentro, alá do fundo”. Também o de Manuel Maria “Idioma meu, humilde, nídio, popular, labrego, suburbial e marinheiro”. E, em castelhano o de Toribio Anyarín “Hallo más dulce el habla castellana que la quietud de la nativa aldea, más deleitosa que la miel hiblea, más flexible que espada toledana. Quiérela el corazón como a una hermana desde que en el hogar se balbucea porque está vinculada con la idea, como la luz del sol con la mañana”.
No ano de 2007, o galego Xan Leira realizou, sob o título de Crónicas da repressão linguística, um muito interessante documentário, que escolhi para apoiar os comentários do presente depoimento da série, nas vésperas da comemoração do Dia da Língua Materna.

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