xoves, 25 de febreiro de 2016

Mudar o currículo para mudar a escola (Filme: «Escola Primária» ou «Lições da infância»)

AS AULAS NO CINEMA

Hoje mais que nunca os especialistas em educação questionamos os programas oficiais do ensino. Os conteúdos do currículo oficial de primária e secundária não contemplam aqueles mais necessários para a sociedade atual. Existe como uma inércia desde há séculos para continuar com o estudo de temas caducos, que não respondem às necessidades dos cidadãos no mundo onde vivemos. Por isso urge uma reforma em profundidade do currículo escolar e da metodologia a desenvolver nas aulas. A introdução de novos conteúdos e novas estratégias didáticas nos espaços educativos. Eliminando outros muitos que não são básicos e podem ser estudados pelos rapazes noutros lugares e contextos, nomeadamente com a internet. Países como a Alemanha, França e o Reino Unido, estão a questionar-se nos seus sistemas educativos a mudança do currículo na linha que antes mencionámos.
No nosso sistema educativo, mantendo como muito importantes a leitura, a escrita e o cálculo, conteúdos com que já nascera na Idade Média a escola pública, temos que conseguir que sejam áreas fundamentais aquelas denominadas como transversais. Educar para o consumo, educação vial, educação para os direitos humanos, educação cívica, ética e democrática, educação pela igualdade, educação para a saúde, para a paz e a não violência, ecológica e ambiental, educação sexual, educação icónica, aprender a cozinhar por todas as crianças e jovens, etc. Todas elas devem passar a ser nas aulas áreas básicas, ensinadas com estratégias dinâmicas, criativas e adequadas. Temos que incorporar também outros conteúdos inovadores como a filatelia, o xadrez, o teatro, os primeiros socorros e a agricultura, especialmente ecológica. E manter com melhores métodos todas as áreas artísticas, como a música e a plástica. Dando igualmente muita importância à educação física e aos jogos. Áreas que tanto influem na personalidade, por serem aprendizagens apreciativas relacionadas com os sentimentos, a motricidade e a afetividade. Porque temos que ir a um currículo muito mais aberto, sem perder de vista as aprendizagens instrumentais e o domínio das novas tecnologias.
Modelos temos de avondo para os adaptar aos estabelecimentos de ensino atuais. Freinet na sua escola desenvolvia estratégias didáticas tão interessantes como o cálculo vivo extraído da realidade diária, os textos e desenhos livres, o jornal escolar, os ficheiros cooperativos, os trabalhos em grupo, a imprensa na aula, a biblioteca do trabalho elaborada pelos próprios estudantes, ao pesquisar sobre temas variados da sua escolha da envolvente social e natural própria. Porque o pedagogo galo, com acerto, assinalava que o melhor livro é o livro da vida. Da vida do meio que rodeia a escola. Nas suas aulas tinha também muita importância a correspondência interescolar, tão motivadora e interessante para aprender, entre outras muitas cousas, idiomas. Os passeios e excursões escolares, os trabalhos manuais em oficinas pedagógicas ou obradoiros, os coutos escolares, com cuidado de jardins, hortos e animais. E sem ir mais longe, temos a ILE de Giner e Cossío. Onde se dava uma grande importância à biblioteca escolar, à técnica do livro-fórum, às audições musicais, aos passeios para conhecer e estudar a envolvente, às colónias escolares de verão, às dramatizações e recitais, às exposições e ao teatro e os jogos populares.
Hoje temos que ir a um novo currículo que contemple as novas tecnologias, para que os estudantes aprendam a usá-las bem, aprendam a elaborar blogues e páginas, aprendam a escolher informação adequada na internet, aprendam a ver o cinema e a linguagem icónica ou da imagem. E, sobretudo, aprendam a aprender. Muitas cousas de forma autónoma e independente. Outras a conviver com os demais no respeito e solidariedade. E que tenham curiosidade para querer fazê-lo. Seguindo o modelo e plano de Edgar Morin sobre os sete saberes fundamentais que devem trabalhar já os nossos estabelecimentos de ensino, que já comentei num anterior depoimento da série. E sobre as habilidades ou competências que devem adquirir os estudantes, ao termo da sua escolaridade obrigatória. Que é o que demanda a sociedade atual ao nosso ensino.
Para debater e sensibilizar sobre o importante tema de mudar o nosso currículo, nomeadamente do primeiro ensino, e conseguir uma escola nova mais adaptada aos novos tempos e necessidades, escolhi o formoso filme Escola Primária do realizador checo Jan Sverák, realizado em 1991, dentro de uma trilogia de filmes, cujo roteirista é o pai do diretor.

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