AS AULAS NO CINEMA
Hoje mais que nunca os especialistas em educação questionamos os
programas oficiais do ensino. Os conteúdos do currículo oficial de
primária e secundária não contemplam aqueles mais necessários para a
sociedade atual. Existe como uma inércia desde há séculos para continuar
com o estudo de temas caducos, que não respondem às necessidades dos
cidadãos no mundo onde vivemos. Por isso urge uma reforma em
profundidade do currículo escolar e da metodologia a desenvolver nas
aulas. A introdução de novos conteúdos e novas estratégias didáticas nos
espaços educativos. Eliminando outros muitos que não são básicos e
podem ser estudados pelos rapazes noutros lugares e contextos,
nomeadamente com a internet. Países como a Alemanha, França e o Reino
Unido, estão a questionar-se nos seus sistemas educativos a mudança do
currículo na linha que antes mencionámos.
No nosso sistema educativo, mantendo como muito importantes a
leitura, a escrita e o cálculo, conteúdos com que já nascera na Idade
Média a escola pública, temos que conseguir que sejam áreas fundamentais
aquelas denominadas como transversais. Educar para o consumo, educação
vial, educação para os direitos humanos, educação cívica, ética e
democrática, educação pela igualdade, educação para a saúde, para a paz e
a não violência, ecológica e ambiental, educação sexual, educação
icónica, aprender a cozinhar por todas as crianças e jovens, etc. Todas
elas devem passar a ser nas aulas áreas básicas, ensinadas com
estratégias dinâmicas, criativas e adequadas. Temos que incorporar
também outros conteúdos inovadores como a filatelia, o xadrez, o teatro,
os primeiros socorros e a agricultura, especialmente ecológica. E
manter com melhores métodos todas as áreas artísticas, como a música e a
plástica. Dando igualmente muita importância à educação física e aos
jogos. Áreas que tanto influem na personalidade, por serem aprendizagens
apreciativas relacionadas com os sentimentos, a motricidade e a
afetividade. Porque temos que ir a um currículo muito mais aberto, sem
perder de vista as aprendizagens instrumentais e o domínio das novas
tecnologias.
Modelos
temos de avondo para os adaptar aos estabelecimentos de ensino atuais.
Freinet na sua escola desenvolvia estratégias didáticas tão
interessantes como o cálculo vivo extraído da realidade diária, os
textos e desenhos livres, o jornal escolar, os ficheiros cooperativos,
os trabalhos em grupo, a imprensa na aula, a biblioteca do trabalho
elaborada pelos próprios estudantes, ao pesquisar sobre temas variados
da sua escolha da envolvente social e natural própria. Porque o pedagogo
galo, com acerto, assinalava que o melhor livro é o livro da vida. Da
vida do meio que rodeia a escola. Nas suas aulas tinha também muita
importância a correspondência interescolar, tão motivadora e
interessante para aprender, entre outras muitas cousas, idiomas. Os
passeios e excursões escolares, os trabalhos manuais em oficinas
pedagógicas ou obradoiros, os coutos escolares, com cuidado de jardins,
hortos e animais. E sem ir mais longe, temos a ILE de Giner e Cossío.
Onde se dava uma grande importância à biblioteca escolar, à técnica do
livro-fórum, às audições musicais, aos passeios para conhecer e estudar a
envolvente, às colónias escolares de verão, às dramatizações e
recitais, às exposições e ao teatro e os jogos populares.
Hoje temos que ir a um novo currículo que contemple as novas
tecnologias, para que os estudantes aprendam a usá-las bem, aprendam a
elaborar blogues e páginas, aprendam a escolher informação adequada na
internet, aprendam a ver o cinema e a linguagem icónica ou da imagem. E,
sobretudo, aprendam a aprender. Muitas cousas de forma
autónoma e independente. Outras a conviver com os demais no respeito e
solidariedade. E que tenham curiosidade para querer fazê-lo. Seguindo o
modelo e plano de Edgar Morin sobre os sete saberes fundamentais que
devem trabalhar já os nossos estabelecimentos de ensino, que já comentei
num anterior depoimento da série. E sobre as habilidades ou
competências que devem adquirir os estudantes, ao termo da sua
escolaridade obrigatória. Que é o que demanda a sociedade atual ao nosso
ensino.
Para debater e sensibilizar sobre o importante tema de mudar o nosso
currículo, nomeadamente do primeiro ensino, e conseguir uma escola nova
mais adaptada aos novos tempos e necessidades, escolhi o formoso filme Escola Primária do realizador checo Jan Sverák, realizado em 1991, dentro de uma trilogia de filmes, cujo roteirista é o pai do diretor.
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