luns, 8 de agosto de 2016

Reequilibrar o galego. Louvor do activismo lingüístico.

Registam as estatísticas a desoladora evoluçom do nosso idioma, a mais alta criaçom do país que já foi Gallaecia com os romanos e Kallaikia com os geógrafos helenos. Um monumento ímpar que justifica umha naçom.
O galego está condenado por delito de disfuncionalidade e rusticidade ‑alienaçom mercantilista e identitária‑ o inglês impera, o castelhano é o natural: foi naturalizado por umha história de assimilaçom. No entanto cresce a vontade de resistência e empenho por resgatar a língua do limbo provinciano e subalterno em que fica aferrolhada por causa do desdém social e institucional.
O galego, é certo, nom vai desaparecer de hoje para manhá do catálogo das línguas vivas mas está em risco inegável de afundamento no ominoso fojo das línguas de uso restrito a efemérides comemorativas, mero latim de escura igreja provinciana sem família conhecida quando é, como sabemos, o segundo romance mais falado na babel humana.
Com precisa exactidom, a estática física facilita-nos um bom quadro interpretativo da situaçom que abafa o nosso idioma. Lembremos que todo corpo sólido é capaz de adoptar três posiçóns de equilíbrio alternativas: estável, instável, indiferente. A diferença entre as três, reside na energia potencial que portam: máxima no estado instável, mínima no indiferente e meia no estável. Um cone sobre o vértice exemplifica o estado instável, um cone sobre a superfície envolvente o estado indiferente e o cone sobre a sua base, o equilíbrio estável.
Na posiçom estável, o sólido, separado da sua posiçom retorna ao equilíbrio que lhe garante a sua base de sustentaçom, como o cone sobre a base. Na posiçom instável, o precário equilíbrio nom pode recuperar o estado original depois de submetido à qualquer mínima perturbaçom como o cone sobre o vértice. No equilíbrio indiferente o corpo pode rolar a prazer que já nom abandonará mais já a sua posiçom de mínima energia.
A metáfora física quadra bem com a actual situaçom do galego: um cone vacilante sobre o vértice condenado a cair no estado de indiferença inercial e a mover-se em volta do vértice glotopolítico que o usufrui e o pastoreia
A metáfora física quadra bem com a actual situaçom do galego: um cone vacilante sobre o vértice condenado a cair no estado de indiferença inercial e a mover-se em volta do vértice glotopolítico que o usufrui e o pastoreia. Exageraçom? Julguem vocês sobre os efeitos da insidiosa teoria da “liberdade de escolha dos pais” — leiam darwinismo social assimétrico — ou reparem na exuberante invasom de morfossintaxe espanhola e fantasia neológica — ingredientes desnaturalizantes — promovidos polo vértice glotopolítico. O equilíbrio indiferente que nos ameaça é o equilíbrio da indiferença.
A ninguém pode estranhar que reserve a privilegiada denominaçom de equilíbrio estável ao modelo promovido polas entidades reintegracionistas que propugna pôr o idioma sobre a sua base certa, o galego-português.
É bom reparar-mos que é nesta vanguarda do activismo lingüístico onde nascem as Escolas Semente que naturalizam o galego na primeira infáncia, a Iniciativa popular Paz Andrade, que mereceu a aquiescência unánime do Parlamento Galego, os sólidos manuais publicados para acomodar o galego ao seu formato internacional, os Clubes de leitura que difundem entre nós o prazer da língua sem fronteiras, o uso descontraído do galego de qualidade nas redes sociais. O activismo lingüístico é a velha toupeira que já tem cem anos seguidos a esburacar.
A ortografia, é verdade, nom deve ser umha fronteira divisória e hostil no seio do activismo lingüístico. Plataformas cívicas como Queremos Galego, escritores que cultivam e puem com esmero a língua nacional contribuem a assentar o galego sobre a sua base firme de estabilidade
Devemos ao empenho do reintegracionista a libertaçom dos velhos patronímicos históricos — os Rajoy, os Feijó, os Gestoso — da teratológica fonética subalterna que os aferrolha.
A ortografia, é verdade, nom deve ser umha fronteira divisória e hostil no seio do activismo lingüístico. Plataformas cívicas como Queremos Galego, escritores que cultivam e puem com esmero a língua nacional contribuem a assentar o galego sobre a sua base firme de estabilidade. Podemos esquecer por enquanto o “ñ” invasor e os seus compadres ortográficos. Contornar a curota é um preceito elementar em qualquer marcha de montanha. A carreira de fondo demanda coragem e humor. Nom faltam exemplos. Aí está o manual “Como ser reintegracionista sen que a familia saiba” do Eduardo Maragoto, tam informativo como ortograficamente ortodoxo; um texto que poderia ser consultado com proveito por Ferrin ou por Alonso Montero sem perigo de contaminaçom por suspeitosa cedilha ou agá.
Praticar o galego requer certa coragem. A revista “Tempos Novos” por exemplo apresta-se a celebrar os seus 20 anos aos ombros animosos dos seus fieis subscritores. Nom me resisto a relatar umha pequena anedota leccionadora de caminho. Foi com ocasiom dumha ronda negociadora com o órgao administrativo competente para distribuir os modestíssimos subsídios salpicados por acaso na imprensa em galego.
O representante da revista ali presente tentava transmitir ao júri funcionarial as inóspitas condiçons em que se viam obrigadas a subsistir as revistas informativas em galego. Um dos delegados da Administraçom atalhou sem contemplaçons a argumentaçom com a arrogáncia habitual da gente afeita a falar desde unha tribuna: “Se a revista é incapaz de manter-se em mercado, talvez nom mereça mantê-la artificialmente”. “Artificialmente” foi a torpe matraca auto satisfatória que esgrimiu o exíguo noviço de escola de negócios. Tutela do idioma? Bolinhos de vento à creme retórica, jaculatória hipócrita dos arcabuzeiros que disparam com pólvora de rei.
O equilíbrio instável ameaça colapso, o indiferente exibe silêncio administrativo, o equilíbrio estável no entanto transmite esperança e suscita activismo. O activismo estimula o músculo, o indiferentismo a adiposidade. Essa será a causa da vitória final do activismo.

Joám Lopes Facal

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