Com essas palavras iniciava o professor
Carlos Reis a sua palestra na sessão da Academia das Ciências de Lisboa
de 14 de julho de 2016; nessa sessão três galegos, membros da Academia
Galega da Língua Portuguesa, eram investidos como
membros-correspondentes da ACL. Essa frase foi também uma forma poética
com a que o antigo reitor da Universidade Aberta homenageava o seu
mestre, Ernesto Guerra da Cal, trazendo àquela nobre sala as próprias
palavras do saudoso poeta galego e universal.
Atrás da magnifica conferência do
catedrático da Universidade de Coimbra, Carlos Reis, que foi precedida
pelas palavras de saudação à Galiza do Presidente da ACL, Artur Anselmo,
veio a apresentação dos novos académicos pelo professor e grande
dicionarista, amigo da Galiza, João Malaca Casteleiro, naquele dia já
histórico; pois não é todos os dias que se vira uma página na história
da nossa vida linguística e cultural.
Depois vieram os discursos dos três
novos académicos, pela mesma ordem em que foram nomeados membros da
histórica Academia das Ciências de Lisboa. Primeiro em intervir foi
Martinho Montero Santalha. O seu discurso foi um repasso pela nossa
historia linguística articulado com a erudição e a humanidade que
caracteriza este primeiro presidente da Academia Galega da Língua
Portuguesa. Martinho não podia ter escolhido um melhor broche para o
final da sua etapa de Presidente da AGLP. Foi a culminação de um
percurso que termina e o início de outro.
O seguinte em fazer uso da palavra foi
Ângelo Cristóvão, recentemente nomeado Vice-Presidente da AGLP, depois
de oito anos de brilhante labor a cargo da Secretaria da Comissão
Executiva. No seu discurso, que se caracterizou pela força e o otimismo
ativo, salientou o momento atual que vive a Galiza, as suas
potencialidades e as possibilidades que nos oferece a Lei para o
Aproveitamento da Língua Portuguesa e Vínculos com a Lusofonia, “Lei Paz
Andrade”.
Finalmente, fechando as intervenções
destes três excepcionais galegos, falou Issac Alonso Estraviz. Um
revisão da obra dos gramáticos seiscentistas portugueses em relação à
Galiza. O discurso do nosso querido dicionarista, intitulado “Do Návia
ao Douro, semente da Língua Portuguesa” foi com grande intenção de
corrigir assim o gramático português que escrevera “Do Minho ao Douro,
semente da língua portuguesa”. Ficam aí as palavras atrevidas, as
palavras daquele que se sabe em casa e pode falar, pode criticar, pois
sempre será auto-crítica.
A sensação, tanto na sessão quanto no
posterior convívio ao que todos os assistentes fomos convidados para
celebrar o evento na própria academia, foi a de estarmos a celebrar, com
a maior das normalidades académicas, o retorno dos intelectuais da
Galiza ao seio da mais antiga academia da nossa língua comum. Estivemos
em casa, fomos reconhecidos, cumprimentados e abraçados como tal.
Inauguramos uma nova secção nesta nobre instituição, a de académicos da
Galiza.
Doravante darão continuidade à presença
galega iniciada com Ernesto Guerra da Cal e Ricardo Carvalho Calero.
Este é um patamar firme do que nunca mais deveremos descer, nesta longa
irmandade que vem de sempre e vai para sempre, e além, entre a Galiza e
Portugal; e que podemos fazer extensível aos países que no mundo falam a
nossa língua.
Sem dúvida foi um dia de reencontro, de
todos nós com o nosso próprio lar, a nossa língua da que levamos andado
tempo demais perdidos.
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