mércores, 17 de agosto de 2016

Pestalozzi, o ‘educador da humanidade’ (documentário da série ‘Grandes Educadores’)

Com este depoimento, dou início a uma nova série dedicada aos grandes educadores do mundo, aproveitando que as escolas por férias do verão estão agora fechadas. Sucessivamente, nesta nova série, vão ser estudados, e por esta ordem, os seguintes educadores: João Henrique Pestalozzi, Maria Montessori, Álvaro Vieira Pinto, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, João Amós Comênio, Francesc Ferrer i Guàrdia e Jean Jacques Rousseau.
Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em 1746 em Zurique, na Suíça. Quando era jovem, abandonou os estudos religiosos para se dedicar à agricultura, sendo que não obteve sucesso na sua empreitada. Após esse fracasso, Pestalozzi levou algumas crianças pobres para casa, onde encontraram escola e trabalho. Exerceu grande influência no pensamento educacional e foi um grande adepto da educação pública. Democratizou a educação, proclamando ser o direito absoluto de toda criança ter plenamente desenvolvidos os poderes dados por Deus. O seu entusiasmo obrigou governantes a se interessarem pela educação das crianças das classes desfavorecidas.
Em 1782, no seu primeiro livro, Leonardo e Gertrudes, Pestalozzi anuncia as suas ideias educacionais, mas a obra não foi considerada como um tratado educativo pelas figuras importantes da época. Pestalozzi decide ser mestre-escola, e vai então, na sua escola, procurar aplicar as suas ideias educacionais. Para ele a escola deveria aproximar-se de uma casa bem organizada, pois o lar era a melhor instituição de educação, base para a formação moral, política e religiosa. Na sua escola, mestres e alunos (meninos e adolescentes) permaneciam juntos o dia todo, dormindo em quartos comuns. O educador faleceu em 1827.
Para a mentalidade contemporânea, amor talvez não seja a primeira palavra que venha à cabeça quando se fala em ciência, método ou teoria. Mas o afeto teve papel central na obra de pensadores que lançaram os fundamentos da pedagogia moderna. Nenhum deles deu mais importância ao amor, em particular ao amor materno, do que o suíço Pestalozzi. Antecipando conceções do movimento da Escola Nova, que só surgiria na virada do século 19 para o 20, Pestalozzi afirmava que a função principal do ensino é levar as crianças a desenvolver as suas habilidades naturais e inatas. “Segundo ele, o amor deflagra o processo de autoeducação”, diz a escritora Dora Incontri, uma das poucas estudiosas de Pestalozzi no Brasil.
A escola idealizada por Pestalozzi deveria ser não só uma extensão do lar como inspirar-se no ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, o pensador suíço não concordava totalmente com o elogio da razão humana. Para ele, só o amor tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral – isto é, encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá liberdade. “Pestalozzi chega ao ponto de afirmar que a religiosidade humana nasce da relação afetiva da criança com a mãe, por meio da sensação de providência”, diz Dora Incontri.
Pestalozzi acreditava na Bondade potencial das crianças. Tanto a defesa de uma volta à natureza quanto a construção de novos conceitos de criança, família e instrução a que Pestalozzi se dedicou devem muito a sua leitura do filósofo franco-suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), nome central do pensamento iluminista e naturalista. Ambos consideravam o ser humano do seu tempo excessivamente cerceado por convenções sociais e influências do meio, distanciado da sua índole original – que seria essencialmente boa para Rousseau e potencialmente fértil, mas egoísta e submissa aos sentidos, para Pestalozzi. “A criança, na conceção de Pestalozzi, era um ser puro, bom na sua essência e possuidor de uma natureza divina que deveria ser cultivada e descoberta para atingir a plenitude”, diz Alessandra Arce, professora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. O pensador suíço costumava comparar o ofício do professor ao do jardineiro, que devia providenciar as melhores condições externas para que as plantas seguissem o seu desenvolvimento natural. Ele gostava de lembrar que a semente traz em si o “projeto” da árvore toda. Desse modo, o aprendizado seria, em grande parte, conduzido pelo próprio aluno, com base na experimentação prática e na vivência intelectual, sensorial e emocional do conhecimento. É a idéia do “aprender fazendo”, amplamente incorporada pela maioria das escolas pedagógicas posteriores a Pestalozzi. O método deveria partir do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato, com ênfase na ação e na perceção dos objetos, mais do que nas palavras. O que importava não era tanto o conteúdo, mas o desenvolvimento das habilidades e dos valores.
Ao contrário de Rousseau, cuja teoria é idealizada, Pestalozzi, segundo a educadora Dora Incontri, “experimentava a sua teoria e tirava a teoria da prática”, nas várias escolas que criou. Pestalozzi aplicou em classe o seu princípio da educação integral – isto é, não limitada à absorção de informações. Segundo ele, o processo educativo deveria englobar três dimensões humanas, identificadas com a cabeça, a mão e o coração. O objetivo final do aprendizado deveria ser uma formação também tripla: intelectual, física e moral. E o método de estudo deveria reduzir-se aos seus três elementos mais simples: som, forma e número. Só depois da perceção viria a linguagem. Com os instrumentos adquiridos desse modo, o estudante teria condições de encontrar em si mesmo liberdade e autonomia moral. Como alcançar esse objetivo dependia de uma trajetória íntima, Pestalozzi não acreditava em julgamento externo. Por isso, nas suas escolas não havia qualificações ou provas, castigos ou recompensas, numa época em que chicotear os alunos era comum. “A disciplina exterior, na escola de Pestalozzi, era substituída pelo cultivo da disciplina interior, essencial à moral protestante”, diz Alessandra Arce, que é a apresentadora entrevistada no documentário que escolhi para ilustrar este depoimento. E, dado que, o 19 de agosto se celebra o “Dia mundial da Ação Humanitária”, também podemos aproveitar este interessante documentário para comemorar esta data, pois também Pestalozzi está considerado pelos estudiosos da História da Pedagogia como o autêntico “Educador da Humanidade”.

FICHA TÉCNICA DO DOCUMENTÁRIO:

  • Título original: Johann Heinrich Pestalozzi.
  • Produtora: Atta Mídia e Educação (Brasil, 2011, 41 min., a cores e a preto e branco, documentário).
  • Editora: Paulus Editora. Coleção: Grandes Educadores.
  • Roteiro e Apresentação: Aleddandra Arce (Mestra em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, pós-doutora em Filosofia e História da Educação pela Unicamp. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de São Carlos e coordenadora do curso de Pedagogia. Considerada como a maior especialista do Brasil sobre Pestalozzi, e também sobre outros grandes educadores do mundo).
  • Argumento: A escola idealizada por Pestalozzi deveria ser não só uma extensão do lar como inspirar-se no ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, o pensador suíço não concordava totalmente com o elogio da razão humana. Para ele, só o amor tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral, isto é, encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá liberdade. As ideias e práticas de Johann Heinrich Pestalozzi representam um legado fundamental para a compreensão da pedagogia atual. Neste programa, Alessandra Arce, uma das maiores referências no estudo de Pestalozzi do país, aponta as influências da “Era das Revoluções” sobre os conceitos desse educador e explica a fundamental contribuição contida na sua missão pedagógica.
  • Conteúdos do Documentário: Contexto histórico: a “Era das Revoluções”; Biografia de Pestalozzi; A criança; O controlo dos instintos animais; Amor, paciência e trabalho; Desenvolvimento da criança: repetição do desenvolvimento da humanidade; Apreensão pelos sentidos; Retorno à natureza; A criança como centro; O “ABC” da intuição; Número, forma e palavra; Nos passos de Comenius e Ideias-guias.

AS IDEIAS PEDAGÓGICAS PESTALOZZIANAS:

De forma sintética analiso as ideias educativo-didáticas de Pestalozzi. A escola idealizada por Pestalozzi tem as seguintes características básicas:
  • Livro sobre Pestalozzi
    Não apenas uma extensão do lar, mas inspira-se no ambiente familiar, (atmosfera de segurança e afeto);
  • O amor é a plenitude da Educação: só o amor tem força salvadora capaz de levar o homem à plena realização moral.
  • Na visão de Pestalozzi, a criança se desenvolve de dentro para fora.
  • Um dos cuidados principais do professor deve ser o de respeitar os estágios de desenvolvimento pelos quais a criança passa.
  • O seu método didático caracteriza-se fundamentalmente por ir:
  • Do mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo, do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato, o ideal é “aprender fazendo”;
  • A um processo educativo que deve englobar três dimensões humanas para uma formação também tripla: intelectual, física e moral;
  • A um método de estudo que deveria reduzir-se aos três elementos mais simples: som, forma e número (posteriormente, a linguagem);
  • Nas suas escolas não havia notas ou provas, castigos ou recompensas;
  • Mais importante do que o conteúdo é o desenvolvimento das habilidades e dos valores.
Estes são os aspetos básicos da organização da sua escola:
  • As turmas eram formadas com os menores de oito anos, com os alunos entre oito e onze anos e outra turma com idades de onze a dezoito anos.
  • As atividades escolares duravam das 8:00 às 17:00 horas e eram desenvolvidas de modo flexível; os alunos oravam, tomavam banho, faziam o desjejum, faziam as primeiras lições, havendo um curto intervalo entre elas.
  • Duas tardes por semana eram livres, e os alunos realizavam excursões.
  • Os problemas disciplinares eram discutidos à noite; ele condenava a coerção, as recompensas e punições.
Podemos concluir, por tanto, que Pestalozzi foi um dos pioneiros da educação moderna, influenciando profundamente todas as correntes educacionais, e longe está de deixar de ser uma referência. Fundou escolas, cativava a todos para a causa de uma educação capaz de atingir o povo, num tempo em que o ensino era privilégio exclusivo. Resulta muito esclarecedora do seu pensamento aquela sua frase: “A vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de palavras, e sim, de ação. É atividade”.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Depois de ver o documentário, organizar um debate-papo ou tertúlia, sobre os diferentes aspetos que sobre a figura de Pestalozzi aparecem no mesmo. Refletir sobre o seu pensamento educativo e comentar, dando alternativas concretas, sobre como se poderia pôr em prática hoje nas nossas escolas a sua didática prática. Poderia pesquisar-se também na Internet sobre as experiências realizadas por Pestalozzi em Stanz, Neuhof, Burgdorf e Yverdon, assim como sobre as suas interessantes publicações.
Elaborar uma monografia, procurando informações em livros e na internet, sobre Pestalozzi, as suas ideias pedagógicas e os seus métodos didáticos. Com desenhos, textos, cartazes e materiais elaborados, poderia organizar-se nas escolas uma magna exposição sobre as experiências educativas realizadas pelo pedagogo suíço, nas diferentes instituições nas que esteve e dirigiu.
Escolher uma, para lê-la entre todos, das obras básicas, e de maior aplicação à Didática nas aulas, escritas por Pestalozzi, publicadas na nossa língua, como: As Horas Noturnas de um Ermitão, Leonardo e Gertrudes, Como Gertrudes ensina as suas crianças ou O canto do cisne. Podemos optar também por ler algum livro dedicado a estudar a sua pedagogia. Entre eles temos Vida de Pestalozzi, de Agostinho da Silva, Pestalozzi. Educação e ética, de Dora Incontri, Pestalozzi, um romance pedagógico, de Walter Oliveira Alves ou A Pedagogia na “era das Revoluções” – Uma Análise do Pensamento de Pestalozzi e Froebel, de Alessandra Arce. Depois de lida a obra eleita, organizar um “Livro-fórum” para comentá-la e debater sobre as palavras, ideias educativas e propostas práticas que o pedagogo suíço faz na mesma.

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