luns, 31 de outubro de 2016

As Irmandades da Fala no seu contexto europeu

A definição da Galiza como nação não aconteceu num valeiro e não quedou sem consequências


Ao falarmos das Irmandades a atenção ao seu papel no desenvolvimento do nacionalismo na Galiza ou na reivindicação do uso do galego pode dar lugar a que perdemos de vista cal era a situação na Europa do seu tempo. Esta situação não era a mesma que a de agora, mas era ainda mais diferente da Europa de uns poucos anos depois, na que se desenvolveu a vida do partido.
Galeguista.

A questão da Irlanda


A Irlanda era, junto com a Polónia, um dos problemas de nacionalidade mais debatidos na Europa do século XIX e princípios do XX, mesmo Marx lhes dedicara bastante espaço nos seus escritos.

O 24 de Abril de 1916 uma aliança de forças nacionalistas e socialistas da Irlanda começaram uma sublevação em Dublin que durou uma semana e forçou ao Império a enviar tropas da metrópole para a sufocar. Os britânicos já não poderiam seguir controlando a ilha sem a ocupação militar. A primeira assembleia das irmandades o 18 de Maio, tivo lugar menos de um mês depois do levantamento de Páscoa. E menos duma semana depois das últimas execuções, a do líder socialista James Connolly e do líder da Irmandade Republicana Irlandesa Seán Mac Diarmada o 12 de Maio, eram notícias recentes

A loita pela independência da Irlanda continuou com força depois desse levantamento mas como guerra de guerrilhas e não rematou até o tratado de 1921 que reconhecia o estado libre da Irlanda. As Irmandades da fala e a geração Nós mantiveram desde os inícios o seu apoio á loita pela independência da Irlanda. Só como exemplo citar as necrológicas e artigos publicados em A Nosa Terra e Nós sobre Terence MacSwiney. Este era o alcalde de Cork desde 1918, elegido nas listas do Sinn Féinn (que significa: nós mesmos) morreu em 1920 trás uma folga de fame de 74 dias, mentras estava preso na Grande Bretanha por sedição. Para o galeguismo da época a causa da Irlanda foi o seu Vietnam.

Os catorze pontos de Wilson e o dereito de autodeterminação na Europa

No 1918 o presidente americano Woodrow Wilson fizera uma oferta pública das condições para rematar à Grande Guerra de maneira negociada: os 14 pontos de Wilson. Ainda que a oferta de Wilson não foi a base das conversas de paz, se influiu nas negociações posteriores. Principalmente na constituição da Sociedade de Nações, na dissolução dos impérios e nas reclamações de territórios na Europa de Entre-Guerras.

Os cinco últimos pontos do texto de Wilson tratavam, entre outros, do dereito ao desenvolvimento autónomo dos povos do Império Austro-húngaro o que deu lugar á independência de Checoslováquia e Hungria. Também da independência dos países que formavam parte do Império Otomano ou da necessidade de assegurar a formação dum estado polaco independente.

O das reclamações de territórios tampouco era teórico, por exemplo, no caso do Sarre e Silesia que votarão para decidir se quedavam na Alemanha ou se uniam, respectivamente, á Francia e á Polónia. Em ambos casos venceu à opção de se quedar na Alemanha. Também houvera consequências imprevistas: a capital da Lituânia votou se unir à Polónia. Um dos motivos pelos que ás grandes potências não acabou de gostar-lhes a ideia, a gente não fazia o que se esperava dela.

Em conclusão, contra o que se pensa habitualmente, o dereito de autodeterminação sim que se aplicou na Europa.

A consequência: Galeuzca

O 11 de Setembro de 1923 os representantes das Irmandades da Fala, PNV e Estat Catalá, entre outras organizações, assinarão em Barcelona o primeiro pacto Galeuzca. No documento se reclamava a soberania plena e como ficou claro, nas circunstâncias da primeira pós-guerra europeia, essa demanda não tinha nada de teórica nem de impossível.

As possibilidades de desenvolvimento desse acordo quedarão tronzadas imediatamente pelo golpe de estado de Primo de Rivera, que era o capitán general da região militar de Catalunha. O manifesto, que tratava de justificar o golpe de estado, aludia expressamente, mas sem o nomear, ao acordo Galeuzca.

Como se pode ver, a definição da Galiza como nação não aconteceu num valeiro e não quedou sem consequências.

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