A recente eleiçom de Filgueira Valverde nom podia ser mais reveladora da ideologia lingüística do atual poder político e das suas instituiçons na Galiza.
A Real Academia Galega, fiel a quem lhe paga e cúmplice ativa, desde o
início da Autonomia, da estratégia da direita espanhola em matéria
lingüística, elegeu um dos principais ideólogos do bilingüismo
isolacionista aplicado polos sucessivos governos autonómicos desde 1981 e
até a atualidade.
É certo que o salto qualitativo para a espanholizaçom em termos
demográficos se tinha produzido já na década de 70, como conseqüência de
variáveis socioeconómicas que tornárom a Galiza um país cada vez mais
urbanizado num processo hegemonizado polo espanhol como língua imposta
polas elites.
Porém, foi precisamente a aposta bilingüista da Alianza Popular de
Filgueira Valverde desde 1980, contando com a cumplicidade do PSOE, que
favoreceu e acelerou essas tendências. Nom foi o único. Toda umha
“casta” de inteletuais autonómicos contribuiu para fazer do galego um
traço subordinado e inofensivo no aparelho institucional autonómico.
A RAG e a sua composiçom ao longo de todos estes anos sintetiza bem
esse colaboracionismo e a renúncia a políticas reais de galeguizaçom
efetiva da sociedade galega, durante o último quartel do século XX e no
início do século XXI.
A “filosofia” apadrinhada polo falangista Filgueira Valverde no início
da etapa autonómica serviu para aparentar umha galeguizaçom superficial e
redundante em relaçom ao sempre imprescindível e preferente espanhol.
A separaçom forçada em relaçom ao português, proposta polo próprio
Filgueira e imposta através do “Decreto Filgueira” de AP em 1982, ajudou
a converter o galego numha língua minorizada e de vocaçom minoritária.
Sem afám dramático, hoje podemos já afirmar que o objetivo estratégico
do espanholismo (de direita e “de esquerda”) está próximo do seu êxito
total. O galego passou, na Galiza, de ser língua “maioritária
minorizada” a ser língua “minoritária minorizada”, graças à filosofia
bilingüista-isolacionista e à falta de resposta suficiente por parte dos
setores sociais normalizadores.
Tanto é assim, que o conselheiro da Educaçom, Jesús Vasques, é capaz de
comparecer no Parlamento para apresentar como um êxito do seu governo
os 10,4% de presença do galego na educaçom infantil galega.
Um país minimamente consciente e ativo na sua própria afirmaçom como
tal nom admitiria nem homenagens a franquistas, nem conselheiros a
gabar-se do caráter marginal em que o seu próprio governo mantém a
língua.
Acho conveniente ligar ambos acontecimentos: a eleiçom do franquista
Filgueira pola RAG e a provocaçom de Jesús Vasques presumindo de 10% de
educaçom em galego para as nossas crianças. Um e outro som indicativos
do momento político que a nossa naçom atravessa.
O desprezo pola Galiza que uns e outros expressam obriga-nos a umha
resposta à altura da agressom, mas as nosas forças sociais e políticas
som mais umha expressom da extrema fraqueza da afirmaçom nacional
galega.
Só umha açom coletiva e massiva em defesa do idioma, que inclua um novo
estatuto legal preferencial e o incorpore ao ámbito internacional
luso-brasileiro, poderá evitar a definitiva reduçom do galego a resto
arqueológico sem futuro.
Para isso, é imprescindível umha reflexom coletiva que conduza toda a
esquerda nacional a abrir umha nova etapa de unidade, livre de
hegemonismos e superadora dos erros do passado. Agora que já nom é só a
minoritária esquerda independentista a que reclama um Estado galego, é o
momento de favorecer essa unidade. Está em jogo a sobrevivência da
Galiza como povo diferenciado, a qual só será garantida pola conquista
da plena soberania: pola independência.
Será precisamente isso o que reclamaremos as e os independentistas de esquerda na nossa manifestaçom deste 25 de julho.
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