mércores, 22 de abril de 2015

Criar nos escolares o prazer por ler, com os contos e romances de Tagore levados ao cinema

Desde há muitos anos, o dia 23 de abril celebra-se em muitos lugares o Dia do Livro. Data que não devem passar por alto nem os docentes nem os seus estabelecimentos de ensino

Desde há muitos anos, o dia 23 de abril celebra-se em muitos lugares o Dia do Livro. Data que não devem passar por alto nem os docentes nem os seus estabelecimentos de ensino, pois é muito importante conseguir entre os escolares de todos os níveis a paixão pela leitura e o amor pelos livros. E que olhem os mesmos como seus verdadeiros amigos, como realmente o são. Ao redor de data tão significativa, temos que organizar em aulas, escolas e liceus, todo o tipo de atividades lúdicas e artísticas, dinamizadoras da leitura de crianças e jovens. Para comentar tema tão apaixonante, escolhi desta vez a extensa filmografia que existe baseada nos contos e romances escritos por Robindronath Tagore. Eu, que levo desde o ano 1964 lendo sem parar Tagore, e também pesquisando sobre a sua vida, obra e pensamento, estou muito surpreendido pelo que estou a descobrir sobre a sua faceta cinematográfica, mais importante do que imaginava. Mesmo venho de inteirar-me, para redigir este depoimento, que chegou a dirigir algum filme, baseado, naturalmente, em obras literárias e musicais suas. Durante mais de 50 anos da minha vida configurei a que pode ser considerada melhor biblioteca do mundo dedicada à sua figura, com livros dele e sobre ele, dos seus colaboradores, tradutores e admiradores, em todas as línguas do planeta, incluído o esperanto.
Na edição décimo quinta do Festival de Cinema de Ourense, celebrada em 2010, dedicaram uma importante seção como homenagem à grande figura mundial de Tagore, aproveitando que o ano 2011 fora declarado como “Ano Tagore”, ao cumprirem-se no dia 7 de maio os 150 anos do seu nascimento, e no dia 7 de agosto os 70 anos da sua morte física. Tagore, a quem os tagoreanos consideramos como o “Leonardo da Vinci” do passado século, foi uma figura multifacetada e completíssima, embora em Ocidente, por ter levado o Nobel de Literatura em 1913, seja muito mais conhecido como literato. Que ainda hoje, de tanto que escreveu, e em todos os géneros literários, não está publicada a sua obra completa, nem no seu idioma materno bengali, denominado Bangla. Há uns poucos anos, em Compostela, encontrei-me com o meu amigo e diretor de Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, e este opinava (e eu concordo com ele) que os contos e relatos curtos de Tagore eram formosíssimos e, infelizmente pouco conhecidos. Escreveu mais de duzentos e os mais interessantes serviram para guiões cinematográficos de vários filmes indianos, nomeadamente bengalis, das duas Bengalas, a ocidental e a oriental ou Bangladesh. Dirigidos por grandes diretores como Sotyojit Ray, considerado como o melhor da história do cinema da Índia, aluno de Robindronath da Faculdade de Belas Artes de Santiniketon, e que levou o Óscar por toda a sua obra em 1992, Mrinal Sen, Rituporno Ghosh, Ojoy Kor e Topon Sinho, entre outros. Os que também tomaram, para outros dos seus estupendos filmes, como base cinematográfica, lindos romances tagoreanos, em que as mulheres são sempre as protagonistas fundamentais. Porque Tagore, que, igual que toda a sua família, e a de Ray, não era hindu, mas da sociorreligião denominada Brahmo-Somaj, foi um grande defensor da mulher e sempre esteve a favor da igualdade de género e da educação feminina. Os seus excelentes romances Gora, A casa e o mundoA quatro vozesBinodiniUma areia no olho e O Naufrágio, foram levados ao cinema por diferentes autores. No caso deste último, escrito em 1906, foi levado à tela cinematográfica por distintos diretores, em numerosas ocasiões e versões, sendo sem dúvida a obra tagoreana mais refletida na arte cinematográfica. O que nada admira, porque para o meu gosto particular, é a melhor novela que li na minha vida, e que denuncia com grande sensibilidade, sem ferir ninguém, o erro que é que seja o pai que escolhe a noiva para o filho. Costume que ainda acontece hoje na Índia, por ser algo arraigado desde tempos milenares.
Em toda a cinematografia bengali, e também na de outros estados indianos, com outros idiomas, mais de oitenta filmes estão vinculados de uma ou de outra forma a Tagore. Bem por se basearem em textos, contos, romances, relatos, óperas-dramas e poemas seus. Bem porque a sua música acolhe muitos cantares tagoreanos, ou danças, interpretados na maior parte dos casos por Hemonto Mukhopadhyay, pois não devemos esquecer que Tagore foi um músico excecional, autor de letra e música de mais de duas mil quinhentas cantigas. Ou bem por serem filmes, a modo de documentários, sobre a sua vida e obra ou sobre as suas instituições educativas, especialmente as de Santiniketon. Também é muito curioso comprovar várias cousas na vida filmográfica de Tagore. Em primeiro lugar, que o primeiro filme baseado num relato seu foi rodado em 1923 por Noresh Chondro Mitro, com o título de Manbhanjan, que, naturalmente, era mudo. Em segundo lugar, que Tagore atuou como diretor cinematográfico, colaborando com Nitin Bose, em 1932, na realização de Notir Puja, uma das suas obras teatrais. Que em 1947 colaborou também no roteiro e adaptação cinematográfica da sua obra Giribala, realizada por Modhu Bose. Que A casa e o mundo, com o título de O mundo de Bimala, realizada por Ray, foi projetada a finais dos oitenta pelo nosso Cine Clube “Padre Feijóo”, e era distribuída pelo carvalhinhês Ismael González. Que um dos mais formosos documentários biográficos sobre Tagore foi realizado por Ray, com o apoio do governo indiano, no ano 1961, com motivo do centenário tagoreano. Finalmente, que no “Ano Tagore”, durante a década presente, foram realizados os seguintes filmes: Chokher Bali (Uma areia no olho), em 2003 por Rituporno Ghosh; Mon amour Shesher Kobita, em 2008 por Shubrojit Mitro; Choturongo (A quatro vozes), em 2009 por Sumon Mukhopadhyay; Laboratory, no mesmo ano por Raja Sen; The Sound of Silence, sobre o último período da vida de Tagore, por Ujjvwal Chatterji; a ópera-drama Shyama, que teve a sua estreia no nosso país no Festival de Ourense, realizada por Obhi Chatterjee, e interpretada por Kaberi Chatterjee; e Noukadubi (O Naufrágio), realizada em 2010 por Rituporno Ghosh. Na edição 2010 do festival cinematográfico ourensano foram projetados três filmes de S. Ray, sobre romances e contos de Tagore: Tin Konna (Três irmãs, 1961), Charulota (A mulher solitária ou O ninho roto, 1964) e Ghore Baire (O mundo de Bimala, 1984), esta última a cores. Espero e desejo que os amantes do bom cinema gostem dos filmes baseados em relatos tagoreanos.

 

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