«No
trânsito ao reintegracionismo ajudo-me de ter tam perto gente com
consciência que, como eu, se preocupa pola situaçom da nossa língua,
cultura e país»GALIZA 2020.
Existe umha imagem, tópica como muitas imagens, de que as
pessoas da vossa idade nom se interessam por questons de índole social.
Sodes umha exceçom?
Manuel Veiras (MV): É triste admitir que sim que
existe umha certa apatia por parte da juventude a respeito destas
questons. Nom penso que seja tam forte como se poda chegar a crer, posto
que, polo que eu vejo, cada vez somos mais as que nos preocupamos e
decidimos fazer parte (seja da maneira que for) dalgum tipo de atividade
política, social, cultural, etc…
Natália Cea (NC): Há muita gente que nom tem a
oportunidade de falar e penso que nestas idades o número de adultos que
se param a nos ouvir é reduzido. Nom sei se nós somos exceçom mas
considerando-o assim acho que há muitas mais exceçons por aí vivendo em
silêncio.
Como é a fotografia lingüística de umha turma de secundário
em Arçua? que línguas som usadas e quando som usadas, tanto dentro como
fora das aulas?
MV: Gente que fala galego a tempo completo, gente
que fala espanhol a tempo completo e gente que fala galego com quem lhe
fala galego e espanhol com quem lhe fala espanhol. Nada fora do habitual
na sociedade galega, em realidade.
NC: Polo que eu podo ver nas aulas de Arçua a língua
com maior número de falantes é o galego. Estivem nos dous liceus da
vila e de um a outro pude apreciar uma ligeira mudança na fala da gente.
No liceu atual o castelhano tem um papel mais importante em comparaçom
ao outro mas continua a ser o galego a língua mais falada em todas as
aulas.
Outra imagem tópica revela que quando umha pessoa
galegofalante conversa com umha castelhanofalante, dumha cidade por
exemplo, acaba por renunciar a usar a sua língua. É mesmo assim?
MV: Polo que eu vejo no mundo em que vivo, isto
existe, mas também nom é umha maioria. Se estamos a falar da juventude,
claro. Entre as pessoas mais velhas o conto muda porque elas foram
educadas doutra maneira. Mas a gente nova que fala galego nom se
envergonha da sua língua. Quem o fai é minoria, e isso é um bom sinal.
NC: Na minha turma reparo muitas vezes neste facto.
Às vezes vejo que a pessoa que renunciou à sua língua de maneira
inconsciente apercebe-se rapidamente e regressa ao galego e outras vezes
noto o seu esforço por se manter no castelhano, nom estando cómoda,
simplesmente por “ficar bem”. No meu caso nunca renunciei, renuncio nem
renunciarei à minha língua por motivos como este. No entanto, tenho
amigas castelhanofalantes que quando falam comigo som elas as que mudam
para a nossa língua.
Para vós, a língua galega nom acaba na Galiza, e sim é
compartilhada com outras sociedades como a brasileira ou a portuguesa.
Como chegastes a essa forma de ver e de viver a língua de umha focagem
reintegracionista?
MV: Em meu caso, primeiramente houvo quem me passou
informaçom sobre o movimento reintegracionista, que nom chegou para
convencer-me ao cem por cento, até que um dia, ouvim umha cançom dumha
banda portuguesa e digem “hóstia, compreendo tudo! pois sim que vai ser
que falamos a mesma língua…”, e a partir de aí comecei a ler informaçom,
que partilhavam comigo, com olhos diferentes.
NC: Tivem a sorte de contar na ESO com umha mestra
reintegracionista que apesar de estar pouco tempo no meu liceu pudo
deixar em mim a semente da curiosidade. Figem-me muitas perguntas e
investiguei pola minha conta, à medida que via e lia cousas mais me
convencia de que eu tinha que formar parte deste movimento mas,
sinceramente, senti-me um pouco “sozinha” e decidim apartar tudo isso
até chegar ao bacharelato onde conhecim gente com que encaixava, gente
que compartilhava dúvidas comigo e gente que me podia dar muitas
respostas que necessitava. Aí tomei a decisom de retomar o que tinha
deixado anteriormente e um bom dia passei do “ñ” ao “nh” —ainda estou
nesse trânsito—, aprendendo dia após dia. Ajudo-me do manual do Valentim
Fagim e, sobretudo, de ter tam perto gente com consciência que, como
eu, se preocupa pola situaçom da nossa língua, cultura e país.
Por que destes o passo à escrita em reintegrado? De que forma conseguistes achegar-vos ou aprender essa escrita?
MV: Dei o passo à escrita em reintegrado por
diversas razons. A primeira, porque tomei consciência de que a língua
que falo eu também é falada em Portugal, no Brasil, em Angola, e em
muitos lugares mais. Para além disto, porque vim no reintegracionismo a
oportunidade de limpar de castelhanismos a minha fala, purificá-la,
dar-lhe saúde e afastá-la da espanholizaçom que está a sofrer.
Para achegar-me ao conhecimento da escrita foi fundamental ler. Lendo
textos em reintegrado, aprende-se bastante, e utilizar um dicionário
para as dúvidas é tremendamente útil, também.
NC: Que continue a haver docentes com verdadeira
vocaçom que nos facilitem as armas precisas para aprender a pensar e nom
copiar, repetir e memorizar. Se as pessoas soubermos pensar por nós
próprias nom necessitaremos mais que botar umha olhada ao panorama para
nos aperceber do que se está a passar e da necessidade de ter mãos no
assunto.
Que é o que diríais a alguém que vive o galego como sendo só a língua da Galiza?
MV: Que fale com umha pessoa de Portugal, por
exemplo. Se abrir as orelhas e a mente, aperceberá-se de imediato de que
estám a falar o mesmo idioma.
NC: Recomendaria-lhe destruir as cancelas que
seguramente lhe foram impostas e botar-lhe um olho a todos os quês e
porquês do reintegracionismo já que acho que, normalmente, quem tem essa
vivência é quem nom conta com a informaçom suficiente e é seguidor das
crenças que ditam as “altas vozes”.
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