Os textos estão cheios de erros de escrita, causa mais que provável das dificuldades de decifrado, provocados pola falta de escolarização adequada dos escribas no tempo! Será que a história se repete?
Leio (25 de novembro) numa publicação británica (BBC news http://www.bbc.com/news/business-19964786),
subida ao muro por um amigo do Face, que uma equipa de investigadores
do Ancient World Research Cluster da Universidade de Oxford está a
piques de decifrar a escrita do proto-elamita.
A esperança da equipa está baseada numa tecnologia “futurista” (e muito cara) de fotografar os textos desta esquiva lingua da antigüidade, que leva negando a sua intelecção, teimudamente, desde hai mais de cinco mil anos. Suponho eu que os elamitas que o “escribiram” (por dizer algo, pois mais parez que o “incidiram” nas placas de barro, como se aprecia na foto) deveriam de entender o que ali punham. Mas o Dr. Jacob Dahl, responsável pola equipa de investigação, cre que os textos estão cheios de erros de escrita, causa mais que provável das dificuldades de decifrado, provocados pola falta de escolarização adequada dos escribas no tempo! Será que a história se repete?
Contodo, o motivo de eu traer cá esta nova não é a importância do hipotético desciframento da escrita senão outro feito: As hipertecnológicas fotografias tiradas a estes textos vão estar publicamente disponíveis na rede, a geito duma partilha de recursos académicos (textualmente: These images will be publicly available online, with the aim of using a kind of academic crowdsourcing). Imediatamente vem á minha mente a comparação. Igualito do que acontoce no nosso entorno e nomeadamente nas universidades galegas.
Vários são os exemplos que vêm á minha cabeça. Dous deles, polo que afecta ao meu desempenho intelectual, mais destacados: o CODOLGA (Corpus Documentale Latinum Gallaeciae) e o TMILG (Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Galega). Pouco ou nada tenhem a ver com os elamitas e o sistema de fotografia ultramoderna, mas sim com a nossa história e lingua. Ambos também estám promovidos por instituições dependentes da Xunta e por tanto financiados com dinheiro público. E contodo, ambos também tenhem um modelo restritivo de acceso á informação que manejam.
A esperança da equipa está baseada numa tecnologia “futurista” (e muito cara) de fotografar os textos desta esquiva lingua da antigüidade, que leva negando a sua intelecção, teimudamente, desde hai mais de cinco mil anos. Suponho eu que os elamitas que o “escribiram” (por dizer algo, pois mais parez que o “incidiram” nas placas de barro, como se aprecia na foto) deveriam de entender o que ali punham. Mas o Dr. Jacob Dahl, responsável pola equipa de investigação, cre que os textos estão cheios de erros de escrita, causa mais que provável das dificuldades de decifrado, provocados pola falta de escolarização adequada dos escribas no tempo! Será que a história se repete?
Contodo, o motivo de eu traer cá esta nova não é a importância do hipotético desciframento da escrita senão outro feito: As hipertecnológicas fotografias tiradas a estes textos vão estar publicamente disponíveis na rede, a geito duma partilha de recursos académicos (textualmente: These images will be publicly available online, with the aim of using a kind of academic crowdsourcing). Imediatamente vem á minha mente a comparação. Igualito do que acontoce no nosso entorno e nomeadamente nas universidades galegas.
Vários são os exemplos que vêm á minha cabeça. Dous deles, polo que afecta ao meu desempenho intelectual, mais destacados: o CODOLGA (Corpus Documentale Latinum Gallaeciae) e o TMILG (Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Galega). Pouco ou nada tenhem a ver com os elamitas e o sistema de fotografia ultramoderna, mas sim com a nossa história e lingua. Ambos também estám promovidos por instituições dependentes da Xunta e por tanto financiados com dinheiro público. E contodo, ambos também tenhem um modelo restritivo de acceso á informação que manejam.
O primeiro, projecto do Centro de Investigación Ramón
Piñeiro en colaboración coa USC, está destinado, como o seu próprio nome
indica a recolher a documentação em latim do reino de Galiza, em
sentido restrito para o sul, nomeadamente de origem monacal. O aumento
do corpus tem sido significativo nos últimos anos mas o acceso a el está
supeditado a um registro. Nem sequer dá informação aberta do que um
pode consultar na sua página web. Para acceder ás fontes documentais é
necessário estar registrado previamente.
Por mais que, suponho, não neguem o registro a ninguém, não é um sistema muito transparente.
Para mais inri as consultas não permitem lectura de documentos completos, apenas os fragmentos que coincidem com os critérios da procura que um estabeleceu. Lembro um curso de toponimia em que um relator, destacado membro deste projecto, transmitia, a modo de segredo a vozes, um método para poder ler treitos significativos dos textos.
O TMILG é projecto levado a termo polo Instituto da Lingua Galega. O labor do ILG nestes 30 anos de existência no processo de divulgação do córpus de textos galegos alcançou, nesta altura, a pôr na rede os textos publicados previamente em formato de livro tradicional. Alguns deles impossíveis de conseguir hoje e outros (os menos) mais recentes. Entre outros os de Ramón Lorenzo, José Luís Pensado, Emilio Duro Peña, Giuseppe Tavani, Walter Mettmann, Mercedes Brea, Manuel Lucas Álvarez, Xesus Ferro Couselo e ainda de autores históricos como Antonio López Ferreiro ou José Leite de Vasconcelos.
A investigação e recolha de textos medievais com o objecto exclussivo de os “subir” para o dominio público é praticamente inexistente. E digo “praticamente” para deixar certa margem ao meu desonhecimento destas actividades dentro do projecto.
De novo para aceder a estes interessantes tesouros da nossa cultura, já publicados en tempos anteriores e hoje a maior parte deles esgotados, devemos registar-nos segundo o formulario que se ilustra numa “toma de ecrã” mais abaixo. Não parez razoável que para consultar textos da nossa cultura tenhamos que inscrever-nos em registro nenhum. Deveriam ser dominio público.
Ainda mais, no caso do TMILG, ao tempo de se registrar há que especificar o objectivo das consultas. Arre demo! Terám medo estes popes da cultura galega de que sejam usados os seus trabalhos em vão? Tal vez para criticá-los?
Com certeça na nossa Universidade (pública), suportada por fundos públicos pagados com os impostos de todos ainda não existe a ideia de que o seu trabalho é em benefício e deleite de todos... esses mesmos “todos” que pagam os soldos do persoal fixo e as magras bolsas do persoal bolseiro. E que o uso que fagamos da informação em dominio público, pagado com dinheiro público, é um asunto de cada quem. Chamem-me comunista, mas eu creio que a cultura é um bem de interesse social e deve estar aberta a todos, a TODOS.
Este sistema, tão do gosto da USC e as instituições relacionadas, contrasta de fronte com os modelos europeus e americanos (dos que tanto se gabam as nossas instituições de imitarem). Quem tiver interesse pode acceder à Latin Library (http://www.thelatinlibrary.com/) ao Projecto Perseus (http://www.perseus.tufts.edu/hopper/) ou ao Corpus Christianorum (http://www.corpuschristianorum.org/series/cccm_publications.cfm) para comprovar como páginas de acceso livre albergam cantidades ingentes de textos latinos (e também gregos e traduções ao inglês) completos sem exigir do utente outra cousa que conhecer o endereço.
Voltemos brevemente á nova da BBC. Há ainda outro motivo de surpreesa. O doutor Dahl, leva descrifrados 1200 signos por separado mas após 10 anos de trabalho ainda fica muito por descobrir, reconhece. Por isso cre que a partilha desta informação permitirá a colaboração doutros académicos e interessados e acelerará o processo de decodificação.
Agora sim. O meu estado de ânimo atinge a emoção. Ver
um homem de ciência que tem dedicado dez anos da sua vida a uma materia
de investigação tão pouco agradecida como o proto-elamita desejando
partilhar o seu saber e, o que é peor, a sua glória hipotética de
descifrar o código com outros, é um acto de generosidade digno do mais
nobre espírito.Por mais que, suponho, não neguem o registro a ninguém, não é um sistema muito transparente.
Para mais inri as consultas não permitem lectura de documentos completos, apenas os fragmentos que coincidem com os critérios da procura que um estabeleceu. Lembro um curso de toponimia em que um relator, destacado membro deste projecto, transmitia, a modo de segredo a vozes, um método para poder ler treitos significativos dos textos.
O TMILG é projecto levado a termo polo Instituto da Lingua Galega. O labor do ILG nestes 30 anos de existência no processo de divulgação do córpus de textos galegos alcançou, nesta altura, a pôr na rede os textos publicados previamente em formato de livro tradicional. Alguns deles impossíveis de conseguir hoje e outros (os menos) mais recentes. Entre outros os de Ramón Lorenzo, José Luís Pensado, Emilio Duro Peña, Giuseppe Tavani, Walter Mettmann, Mercedes Brea, Manuel Lucas Álvarez, Xesus Ferro Couselo e ainda de autores históricos como Antonio López Ferreiro ou José Leite de Vasconcelos.
A investigação e recolha de textos medievais com o objecto exclussivo de os “subir” para o dominio público é praticamente inexistente. E digo “praticamente” para deixar certa margem ao meu desonhecimento destas actividades dentro do projecto.
De novo para aceder a estes interessantes tesouros da nossa cultura, já publicados en tempos anteriores e hoje a maior parte deles esgotados, devemos registar-nos segundo o formulario que se ilustra numa “toma de ecrã” mais abaixo. Não parez razoável que para consultar textos da nossa cultura tenhamos que inscrever-nos em registro nenhum. Deveriam ser dominio público.
Ainda mais, no caso do TMILG, ao tempo de se registrar há que especificar o objectivo das consultas. Arre demo! Terám medo estes popes da cultura galega de que sejam usados os seus trabalhos em vão? Tal vez para criticá-los?
Com certeça na nossa Universidade (pública), suportada por fundos públicos pagados com os impostos de todos ainda não existe a ideia de que o seu trabalho é em benefício e deleite de todos... esses mesmos “todos” que pagam os soldos do persoal fixo e as magras bolsas do persoal bolseiro. E que o uso que fagamos da informação em dominio público, pagado com dinheiro público, é um asunto de cada quem. Chamem-me comunista, mas eu creio que a cultura é um bem de interesse social e deve estar aberta a todos, a TODOS.
Este sistema, tão do gosto da USC e as instituições relacionadas, contrasta de fronte com os modelos europeus e americanos (dos que tanto se gabam as nossas instituições de imitarem). Quem tiver interesse pode acceder à Latin Library (http://www.thelatinlibrary.com/) ao Projecto Perseus (http://www.perseus.tufts.edu/hopper/) ou ao Corpus Christianorum (http://www.corpuschristianorum.org/series/cccm_publications.cfm) para comprovar como páginas de acceso livre albergam cantidades ingentes de textos latinos (e também gregos e traduções ao inglês) completos sem exigir do utente outra cousa que conhecer o endereço.
Voltemos brevemente á nova da BBC. Há ainda outro motivo de surpreesa. O doutor Dahl, leva descrifrados 1200 signos por separado mas após 10 anos de trabalho ainda fica muito por descobrir, reconhece. Por isso cre que a partilha desta informação permitirá a colaboração doutros académicos e interessados e acelerará o processo de decodificação.
De novo a comparação com os administradores (alguns deles autores persoais das recolhas dos textos previamente editados em papel) do TMILG, por exemplo, é contundente. Diz ali, nas condições de uso:
4. O usuario comprométese a remitirlle con prontitude ao TMILG copia impresa e/ou dixital de calquera publicación na que sexa empregado o corpus.
5. No caso de emprego masivo dos textos do TMILG como material básico ou exclusivo en monografías e traballos de investigación de calquera tipo (lingüístico, literario, histórico...) é preciso acordar co equipo do TMILG unha fórmula de coautoría que reflicta a importancia que en traballos deste tipo reviste a fase de recolleita de datos textuais dos que parten a descrición, a análise e as deducións subsecuentes. En caso de non chegar a un acordo na fórmula, queda prohibida a utilización dos materiais.
Eis um outro exemplo de generosidade desinteressada. Máxime tendo em conta que os textos não são deles, apenas os transcrevem de documentos celosamente custodiados e inacesíveis sem credenciais. E que para eles acederem a esses textos se serviram do respaldo e acreditação de investigadores que lhes outorga trabalharem ou terem trabalhado para a USC ou outra instituição pública. E tendo em conta também que a instituição para quem cedem as suas obras em papel está financiada com dinheiro público, de TODOS.
Em fim, a generosidade sem par da nossa inteligentzia.
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