xoves, 16 de xuño de 2016

Palavras e significados


400 de doma pola lingua de Cervantes (Lugo) e 30 anos de castração resultaram de mais para uma lingua esfomeada e estigmatizada

Um dos parámetros para calcular a competência lingüística (activa ou passiva) dum utente é o seu vocabulário. A quantidade de termos que conhece e a utilização correcta destes nos diversos contextos.

No caso dos galegos, numa situação de descomposição lingüística muito avançada, a competência no uso de léxico variado, rico e adequado ás circunstâncias é baixa ou muito baixa. Mesmo nos galego-falantes “nativos”.

400 de doma pola lingua de Cervantes (Lugo) e 30 anos de castração resultaram de mais para uma lingua esfomeada e estigmatizada. Ao falar em “castração” refiro-me á política lingüística das instituições que deveriam ter velado pola riqueza e uso da língua mas se revelaram como decotadores eficientes da liberdade e fieis crentes no seu livro sagrado (o ladrillo, chamado).

Onde mais se sente esse desastre é no léxico. Sem desdenhar o uso de pronomes átonos, arcano dos arcanos para neofalantes sem complexos, nem outras eivas consuetudinárias como “andivemos”, “conduxen” e demais subtis espanholidades convenientemente enmascaradas. Ou sem enmascarar como silla, ventá e por aí...

Assim que, com frequência, utilizamos palavras com significados pouco adequados. A percepção dum termo num contexto pode levar-nos a confusão e, se nunca corroboramos o nosso acerto ou o nosso erro, ficamos com o significado armazenado tal e como o interpretamos pela primeira vez. Desta feição podemos destacar o termo “arume” que desponta no nosso hino. Como os pinheiros são árvores de olorosa resina e agulhas arrecendentes pois a gente (assim, sem precissar, para não amolar de mais) interpretou que arume é o mesmo que aroma, pero mais galego. De certo é o mesmo que a pica ou pico, a pinocha, a agulha, a frouma, o pilro, a pinhuca...

Também houvo e ainda hai a moda de procurar (por 2 puntos) o que, os profes de gallego, denominarom diferencialismos ou hiperenxebrismos. Incluídos na mesma lista cos lusimos e castelanismos – e estes ambos dous ao mesmo nível, of course-. Não sem motivo há tempo o presidente actual da RAG berrou com indignação antes inglés que portugués... num acto público. Também se escrutavam os vulgarismos e outros sismos do léxico.

Contodo não sou eu dos que acreditam que as palavras têm apenas o significado que uma senhora ou senhor muito estudado lhe deu para o dicionário. As acepções duma palavra são mais do que o significado denotativo dos léxicos. Qualquer palavra pode adquirir siginificados circunstanciais num contexto (real ou lingüístico), informação que não é necessário nem, mesmo, acoselhável recolher. Vem-me á mente a expresão usada para designar um estado de bem-estar como “estar ou andar no ar” onde qualquer parecido com o significado denotativo é mera coincidência, ademais duma impossibilidade física.

Outros exemplos de palavras com significado trasladado fáceis de trazer á mente são os eufemismos (e disfemismos) referidos á morte; ao sexo, drogas ou secreções; a certos animais, como o golpe, etc. Qualquer um destes campos será frutífero em formas substitutas com significado alterado. Umas lexicalizadas, quer dizer, recolhidas en dicionários (as menos) ou léxicos especializados. Outras tão afastadas dos ambientes académicos que rara vez são objecto de atenção por mais que estejam na boca de todo o mundo. Os galegos sempre temos o caralho na boca, dizem por aí.

Também queria referir-me a outro tipo de palavras das que conhecemos o significado habitual mas ignoramos o seu significado profundo, originário, do tempo da sua formação que bem puido ter sido antes mesmo desta lingua existir. Normalmente alá no tempo de o latim, pai divino de todo o que há na România, sem intervenção de mulher (entenda-se lingua nativa) sementar o mundo de linguas filhas.

Para mostrarmos o caso um exemplo: perdoar. no dicionário em linha Priberam diz:

per·do·ar [1](latim medieval perdonare)
verbo transitivo e intransitivo
1. Conceder perdão, absolver da pena. = ABSOLVER, AMNISTIAR, DESCULPAR, INDULTAR ≠ CONDENAR, CULPAR, PUNIR
2. Isentar de dívida.
3. Aceitar, suportar, tolerar.
4. Poupar.                  

Contodo podemos inferir da mesma constituição do termo a origem num costume de pagar um “dom” a troca do “per”-dão. Quer dizer, um costume polo que o responsável duma culpa conseguia ser absolvido mediante um presente que entregava (á família, ao poder que o julgava, sei lá). Resulta curiosa a identidade conceptual com o termo inglês forgive, que resulta da mesma composição: a preposição per/for mais o verbo doar (algo fosilizado)/give. E não é infrequente que o inglés tenha coincidências (que outra cousa poderiam ser?) com o nosso idioma, mas esse é outro assunto.

Podemos aumentar a verba de verbos com significado histórico escuro, diferente do comum conhecido, com termos como conseguir (seguir em companhia... boa amostra da eficácia da colaboração), comprehender (colher em companhia), considerar (olhar estrelas em companhia... os astrónomos, já se sabe), rectificar (deixar recto), propor (pôr diante), conter (sujeitar (junto) com outras cousas), entender (achegar-se a algo ou tender para algo)...

Também há substantivos como persoa (que soa a través ... da máscara no teatro clássico), percusão (golpe ao longo de), desculpa (que deixa sem culpa), concôrdia (de coração com outros) e mesmo sexo (o que separa ou corta, ainda que una muito)...
[1] "perdoar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/perdoar [consultado em 12-06-2016].  

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