martes, 14 de abril de 2015

O que ouvem os portugueses quando ouvem galego?

Lembro-me de estar a ver televisão com um amigo meu acabadinho de chegar da Andaluzia, onde trabalhara durante uns meses. De repente, não sei porquê, demos connosco a ouvir um galego a falar na televisão.
Disse-lhe (armado em sabichão das línguas) que aquilo era galego e ele começou a rir-se, dizendo que aquilo era, obviamente, espanhol. Para ele, nada do que lhe dizia fazia sentido.
A paisagem linguística da Península Ibérica é feita de proximidades e distâncias e uma variedade que poucos portugueses conhecem. A maioria de nós vê tudo de forma binária: o que se ouve pela Península fora só pode ser português ouespanhol.
É normalíssimo: o que aprendemos na escola não inclui as variedades linguísticas de Espanha e nem todos andámos de ouvido à escuta, interessados em perceber as subtilezas do mundo das línguas.
Quando um português ouve um galego a falar, tenta situar-se: se ouvir vogais abertas e uma certa entoação, vai arrumar a língua na gaveta do espanhol.
A lógica é simples: é algo parecido com o português e soa a espanhol. Logo, é espanhol. Mal sabem que, na realidade, estão a ouvir aquilo que muitos dizem ser (com razões muito válidas) a nossa própria língua, embora com outro nome e outro sabor.
Dito isto, certas pronúncias do galego deixam os portugueses atarantados. São as pronúncias que os galegos considerarão menos urbanas, mas que são, para um português, uma estranha forma da sua própria língua.
De repente, aquilo soa demasiado a português para ser espanhol. Imagino que perante este vídeo (que um leitor deste site deixou por aqui há uns dias), muitos portugueses fiquem surpreendidos com a forma como alguns destes jovens parecem estar a falar português:
Se o meu amigo não conseguia distinguir o galego do espanhol, ainda há uns dias, o meu sogro confessou-me ver, por vezes, a TV Galiza: havia quem falasse português por aquelas bandas.
O galego é essa língua onde nós, portugueses, sentimos a vertigem de não saber se estamos ali ou não. É como um velhinho de 100 anos que olha para uma fotografia de quando era muito novo e já não sabe bem se está a olhar para si próprio ou para um irmão…
                                                                                                                                  

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