Para Ernesto, com apreço.
Caro Ernesto, o pensamento filosófico
tem a virtude de revelar os fundamentos implícitos no discurso, de
desvendar supostos enganosos ou parciais subjacentes no pensar comum.
O debate reintegracionista parece estar
polarizando-se em duas posiçons antagónicas que podemos ilustrar com as
antinomias: [opçom finalista ↔ opçom processual], [posiçom pragmática ↔ posiçom historicista], [pulsom cosmopolita ↔ pulsom identitária] ou simplesmente, [perspectiva lusista ↔ perspectiva nacionalitária].
Num extremo, (a AGLP e a AGAL na versom new deal),
impera o princípio do pragmatismo perante a evaporaçom social do
galego: instalemo-nos no português internacional que é a norma útil e
expansiva. O outro extremo (AEG, como tendência retro emergente),
proclama a necessidade de movimentar a consciência social num processo
de reabilitaçom do idioma adjunto ao da construçom nacional ou, se
preferirmos, de resgate da plena autonomia cultural do país.
A sintomática expressom “português da
Galiza”, de uso habitual no pólo primeiro para designar o idioma
nacional, ilumina sem equívoco a perspectiva adoptada frente ao conflito
lingüístico que comove a cultura galega desde meados do XIX. No outro
pólo, a [re]-integraçom (com o prefixo [re] como marca designativa do
processo pendente) aponta com precisom a tarefa em curso. O símbolo da
primeira opçom é um mapa-múndi colorido, o da segunda, um relato da
resistência à assimilaçom: Geografia frente a história.
Nom fai mal um mergulho nas águas da
reflexom filosófica para ponderar as arestas da divergência que separa
ambas as posiçons. Como bem dizia Keynes nas notas finais à sua Teoria
Geral: “…as ideias… tanto quando correctas como quando erróneas …
tenhem mais poder do que supomos. De facto, o mundo está dominado por
elas. Os homens práticos, que se crêem isentos de qualquer influência
intelectual, som usualmente escravos de algum economista (pensador)
defunto”. Em traduçom livre: o pensamento que temos por próprio foi remoído já de maneira insuperável por filósofos defuntos.
Num recente artigo,
o amigo Vazquez Souza discorria nesse tom persuasivo e amistoso que lhe
é próprio no problema do reintegracionismo para concluir na
conveniência de abandonar sem saudade o galego vivo na sua irremediável
oralidade residual como “língua de andar por casa” para passar a adoptar
a variante internacional do idioma, consagrada pola globalizaçom e a
internet. O argumento da substituiçom proposta era que: “as línguas
de uso som as das comunidades de usuários e utentes com que nos
comunicamos na distancia do espaço e já nom as da proximidade”.
Visom que eu me atreveria a qualificar funcionalista ou reducionista por
quanto reduz o idioma a simples código de transmissom de informaçom.
Umha comunidade lingüística
internacional, conectada polo instrumental de comunicaçom globalizada,
como futuro desejável remete inequivocamente ao frio critério da “razom instrumental”. É aqui onde entra a filosofia.
Para a gente interessada no debate das
categorias da razom prática, recomendo a leitura dum excelente artigo
profissional onde se sintetiza com admirável claridade os termos em que o
debate decorre, particularizado neste caso nas opçons abertas ao
sistema educativo ( “De la racionalidad instrumental a la racionalidad comunicativa en el mundo de la educación”).
O corolário defendido por Ernesto, da
conveniência de abandonar o idioma “da casa” polas variantes
internacionais consagradas adquire a sua máxima precisom na releitura a
que submete a famosa disjuntiva de Carvalho para a reabilitaçom do
idioma: ou galego-português ou galego-castelhano. A reinterpretaçom de
Ernesto é muito mais radical: “O galego…? ou é português ou é castelhano”.
Quer dizer, abandonemos os idiomas condenados pola história e
instalemo-nos sem dó nos triunfantes. O argumento é óptimo para a
promoçom do inglês.
A razom que subjaz na argumentaçom lusista nom é outra que a instrumental tecnológica,
pretensamente objectiva e axiologicamente neutra, já denunciada pola
Teoria Crítica neo marxista da Escola de Frankfurt ‑ Adorno, Horkheimer,
Marcuse, Benjamin ‑ como fundamento do positivismo lógico e do discurso
mercantilista tardo capitalista. A Teoria Crítica seria reinterpretada
depois da Segunda Guerra Mundial pola teoria da razóm comunicativa de Jürgen Habermas, como proposta para promover umha democracia crítica de carácter deliberativo. Além disso, ainda temos a razom hermenêutica interpretativa
de Hans-Georg Gadamer que vindica a recuperaçom do discurso particular,
herdado da historicidade concreta da comunidade de sentido que com ela
se identifica.
Nom será preciso insistir em que, do meu ponto de vista, a razom instrumental tecnológica é
o fundamento teórico de todo pragmatismo cosmopolita e da “soluçom
final” como remédio à doença crónica do galego. E é compreensível também
que eu me acolha à razóm comunicativa – de índole essencialmente construtiva e política – como fundamento da estratégia de [re]-integraçom do galego o mesmo que à razom hermenêutica como argumento em favor do nosso património cultural e simbólico secular.
Compreendo bem o irresistível encanto do futuro perfeito
em que toda contradiçom é dissolvida no paraíso da comunicaçom
ilimitada mas, quê resolve isso? A quem consola a opulência da língua
portuguesa se o galego morrer? Acaso nom estamos eticamente
comprometidos com o idioma que nos constituiu como comunidade de sentido
e apela ao futuro com os instrumentos da razóm comunicativa?
Proclamado o português como idioma
actual(izado) da Galiza, nada fica a fazer na proposta lusista a nom ser
esperar que o poder autonómico decida activar a ILP Paz Andrade quando o
considerar oportuno. A estratégia alternativa estará sempre em tránsito
e reinício, à par do incerto decurso da autoconsciência nacional
galega.
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