A Xunta assinou no mês de fevereiro deste ano um Memorando com o Instituto Camões a respeito do ensino de língua portuguesa na Galiza.
O
texto do Memorando, que o governo demorou um mês em fazer público,
implementa a língua portuguesa como matéria optativa dentro do ensino
primário, secundário e especial, mas com uma grande preocupação por
desenvolver estas ações no âmbito das línguas estrangeiras.
De facto, o Memorando tem sido redigido três vezes: Uma, em
Castelhano. E mais duas, em duas formas de Galego: A corriqueira da
Xunta (o mito da norma oficial) e a internacional, mais conhecida como
Português. Só faltava que num texto destas características a Xunta
banisse o uso da norma comum. Pois desta não, o Memorando também vai
escrito em português.
O texto não implica os contratantes, Xunta e Instituto Camões, em
obrigações de natureza jurídica, portanto, pode ser doadamente anulado.
Aparece como um dos escassos desenvolvimentos da Lei Paz-Andrade, em
vigor desde o mês de abril de 2014. Fala da criação dum programa e dum
plano de atuação para a implementação do estudo de português, mas não
faz referência ao professorado galego de português, nem a outras
entidades que poderiam ajudar a realizar o mesmo labor.
Não parece, pois, um texto completo, nem uma declaração clara de
intenções em favor do desenvolvimento do Galego Internacional. Pelo
contrário, diminui o valor social do português na Galiza ao ficar
redondamente assumido como língua estrangeira, à par do inglês e do
francês já presentes no sistema educativo. Também em certa medida
desvirtua a Lei Paz-Andrade que estabelece a língua portuguesa como
objetivo estratégico, intercompreensível e que nasce na própria
Gallaecia, o qual é um reconhecimento sem precedentes, um reconhecimento
que nem sequer o Castelhano tem.
Por fortuna, o professorado de ensino primário, secundário e especial
pode solicitar o programa plurilíngue para usar português nas aulas sem
aguardar pelos passos de tartaruga do atual, mas não permanente,
governo da Xunta. A autoformação d@s profissionais da educação tem sido
esmagadoramente mais exemplar e efetiva, de maneira que hoje contamos
com bastante professorado capaz de ministrar a sua matéria em português.
Perante a ineficácia dos governos, a eficaz iniciativa das pessoas. A
maioria da gente já sabe que o português é língua galega. Sejamos Glocais:
Pensar global, fazer local. Translademos ao nosso alunado as vantagens
da língua global dentro do nosso contexto local e saberemos que estamos a
plantar semente de futuro.
Opinião publicada originalmente no n.º 147 do Novas da Galiza, na seção Língua Nacional e tirada da internet através do PGL.
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